O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou nesta segunda-feira (8) que instruiu as Forças Armadas do país a preparar um plano para o estabelecimento de uma "cidade humanitária" na região de Rafah, que hoje está em ruínas, para abrigar toda a população da Faixa de Gaza.
Segundo Katz, o plano deve envolver inicialmente o deslocamento de 600 mil palestinos, principalmente provenientes hoje da área de al-Muwasi, no litoral sul do território. O ministro afirma que as pessoas deverão passar por uma triagem de segurança para entrar e, a partir de então, não terão permissão para sair. A ideia, disse o ministro, é construir o espaço durante o cessar-fogo de 60 dias que está em negociação entre o governo de Israel e o grupo Hamas.
Com esse plano, os militares seriam responsáveis pela segurança de todo o perímetro, mas não administrariam o local nem promoveriam entrega de ajuda humanitária. Katz afirmou que Israel busca Estados parceiros para a administração da nova zona, que a princípio tem seu plano coordenado pelo diretor-geral do Ministério da Defesa e ex-vice-chefe do Estado-Maior, Amir Baram.
O gabinete do atual chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, afirmou ao Supremo Tribunal, também nesta segunda, que o exército israelense não força expulsões de população dentro ou fora de Gaza e, além disso, que o objetivo da operação não é mobilizar e concentrar as pessoas.
As declarações, no entanto, contradizem a ordem que já havia sido apresentada aos comandantes de Israel em maio acerca da operação "Carruagens de Gideão". O jornal israelense Haartez publicou, à época, que a ordem explicitava como um de seus objetivos "gerenciar e mobilizar a população civil". As forças confirmaram os detalhes, mas não comentaram.
Naquele momento, o gabinete de segurança israelenses aprovou um plano para expandir a guerra em Gaza que incluía a conquista completa do território e a remoção forçada da população palestina -algo que, se confirmado, configuraria limpeza étnica.
Netanyahu afirmou, à época, que a guerra em Gaza seria intensificada, e os soldados israelenses não mais lançariam ataques contra o território e recuariam. "A intenção é o exato oposto disso [atacar e avançar]", afirmou.
Nesta segunda, em reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Netanyahu voltou a falar sobre expulsar palestinos de seu território em Gaza ao discutir o futuro da região.
Segundo Israel Katz, o novo plano visa enfraquecer o Hamas e suas lideranças tomando territórios e desmilitarizando a Faixa de Gaza. Na prática, diz, isso significa implementar "o plano de emigração, que vai acontecer". Katz ressaltou que o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, já está em busca de países que aceitem receber os cidadãos palestinos.
Uma fonte familiarizada com o assunto ouvida pelo Haaretz, no entanto, afirmou que o Estado judaico não espera efetivamente que o plano seja levado adiante e que, também por isso, não há preparo para uma possível emigração de Gaza.
A agência de notícias Reuters publicou nesta segunda sobre uma proposta, que leva o nome da Fundação Humanitária de Gaza (FHG), que descreve um plano para construir campos de grande escala chamados "Áreas de Trânsito Humanitário" dentro -e possivelmente fora- de Gaza para abrigar a população palestina, delineando uma visão de "substituir o controle do Hamas sobre a população de Gaza".
Entidades humanitárias internacionais, inclusive órgãos das Nações Unidas, já criticaram as ações e planos de Israel. classificando-os como deslocamento forçado, já que militares israelenses têm esvaziado o norte do território com ordens de retirada de civis devido supostamente a operações contra o Hamas.
Até agora, a guerra matou mais de 56 mil palestinos, cerca de 3% da população de Gaza, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, e deslocou centenas de milhares múltiplas vezes.