Uma americana de 33 anos desenvolveu botulismo, sofreu paralisia facial parcial e múltiplos pequenos AVCs após realizar um procedimento estético com combinação de duas toxinas botulínicas. Os sintomas começaram com forte enxaqueca poucas horas após a aplicação, evoluindo para incapacidade de comunicação e movimentação na manhã seguinte.
Residente em Good Hope, na Geórgia, Amanda Wolaver havia ido para sua aplicação regular de Botox para suavizar rugas na testa, pés de galinha e linhas entre as sobrancelhas. Nesta consulta, em agosto de 2023, ela também recebeu Dysport, similar ao Botox, pela primeira vez. Ambos os injetáveis são formulados a partir da toxina que causa botulismo para paralisar os músculos.
"Eu não conseguia ser a mãe que eu queria para meus três filhos", disse Wolaver, que lutava para andar, dirigir e até mesmo se movimentar, o que a levou pensar que estava "morrendo lentamente". Durante esse período, ela dependeu fortemente do marido, Josh, de 39 anos, para cuidar dos três filhos: Landen, de 16 anos, Braxton, de 11, e Havyn, de 5.
Diagnóstico tardio e complicações graves
A descoberta da verdadeira causa dos problemas de saúde de Amanda ocorreu quando ela encontrou um fórum online que discutia casos de intoxicação por botox e identificou similaridades com sua própria condição. Antes disso, médicos suspeitavam de esclerose ou alguma doença autoimune, mesmo após realizarem tomografia e ressonância magnética.
No dia seguinte à aplicação, ela foi ao hospital quando "não conseguia funcionar ou formar frases completas", conforme relatou ao Daily Mail. Uma tomografia computadorizada mostrou que não havia "nada relacionado à injeção", mas sua condição piorou. Odores fortes a incomodavam e ela ficava tonta rapidamente.
As complicações resultantes do botulismo incluíram múltiplos ataques isquêmicos transitórios (AITs), considerados mini AVCs, além de comprometimento neuromuscular grave que explicava a incapacidade motora e as dificuldades de comunicação enfrentadas pela paciente. Após gastar aproximadamente 30 mil dólares (cerca de R$ 166.448,99) em testes, Wolaver descobriu que estava tendo mini-derrames causados por botulismo iatrogênico.
O que é o botulismo?
O botulismo é uma doença neuroparalítica grave e rara, não contagiosa, causada pela ação de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Em quantidades mínimas, esta toxina pode provocar envenenamento grave em questão de horas, afetando diretamente o controle motor do paciente e podendo causar insuficiência respiratória.
Os sintomas do botulismo incluem dor de cabeça, vertigem, tontura, sonolência e problemas visuais como visão turva ou dupla. Distúrbios gastrointestinais como diarreia, náuseas e vômitos também são comuns, assim como dificuldades respiratórias que podem evoluir para paralisia da musculatura respiratória.
Segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA), o botulismo pode ocorrer após o Botox "quando a toxina circula no sangue e produz efeitos remotamente do local da injeção". Os sintomas podem começar dentro de algumas horas e incluem dificuldade para engolir ou falar, náusea, dificuldade para respirar e visão turva.
Sequelas
Amanda seguiu o protocolo médico recomendado para casos de intoxicação por toxina botulínica e implementou mudanças em seu estilo de vida. Ela eliminou o consumo de cafeína e refrigerantes de sua dieta e, em abril de 2025, removeu seus implantes mamários como parte do processo de recuperação.
Descobrir que tinha botulismo, ela disse, "me derrubou. Ser informada que eu havia sofrido múltiplos pequenos derrames no meu cérebro me fez pensar que isso eventualmente me mataria". Em um esforço para acelerar sua recuperação, ela mudou sua dieta e até removeu seus implantes, esperando desintoxicar seu corpo. Como Wolaver diz, "Eu aprendi o preço da beleza da maneira mais difícil".
Apesar dos esforços e do tratamento, Amanda ainda convive com sequelas persistentes da intoxicação, incluindo episódios de tontura e dificuldades cognitivas, embora tenha recuperado parte de sua autonomia após o longo período de imobilidade.
A paciente transformou sua experiência em ativismo nas redes sociais, onde atua como defensora da conscientização sobre os potenciais efeitos adversos da toxina botulínica que, segundo ela, não são devidamente informados aos pacientes.
Enquanto isso, o Reino Unido está atualmente enfrentando um surto de botulismo, com 38 casos ligados ao Botox, segundo a Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido (UKHSA).
Recomendações de segurança para procedimentos estéticos
Para reduzir os riscos associados a procedimentos estéticos com toxina botulínica, especialistas recomendam verificar se os produtos utilizados são aprovados por órgãos de vigilância sanitária e estão dentro do prazo de validade. Os pacientes podem consultar a regularidade dos produtos através do sistema da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
As aplicações devem ser realizadas exclusivamente por profissionais habilitados e em estabelecimentos de saúde autorizados pela vigilância sanitária local. As orientações presentes na bula do produto precisam ser rigorosamente seguidas, especialmente quanto ao intervalo necessário entre aplicações.
Os pacientes têm direito a informações completas sobre o procedimento e devem verificar dados como marca, lote e validade do produto. Os profissionais de saúde precisam questionar os pacientes sobre seu histórico de aplicações anteriores de toxina botulínica para garantir que as sessões ocorram em intervalos adequados.
O tratamento do botulismo requer internação hospitalar em unidade com terapia intensiva e monitorização cardiorrespiratória. O protocolo terapêutico inclui a administração de soro antibotulínico e antibióticos, visando eliminar tanto a toxina circulante quanto a bactéria C. botulinum.