Com bombardeios e operações, o Exército israelense intensificou a ofensiva na Cidade de Gaza nesta quinta-feira (21), com o objetivo de tomar o último grande reduto do movimento islamista Hamas no território palestino.
Cinco divisões estão planejadas para participar da ofensiva, e o Exército israelense solicitou, nesta quinta-feira, que hospitais e ONGs que operam na Cidade de Gaza se preparem para se deslocar para o sul do território.
O Exército israelense anunciou que mobilizará 60.000 reservistas adicionais, alimentando temores de que a catastrófica situação humanitária em Gaza possa piorar.
O avanço das tropas acontece no momento em que os mediadores - Estados Unidos, Egito e Catar - continuam aguardando a resposta formal do governo de Benjamin Netanyahu a uma proposta de trégua, que permitiria a libertação dos reféns israelenses, e que foi aceita pelo Hamas.
"Não vamos esperar. Iniciamos as ações preliminares e, no momento, as tropas do Exército israelense controlam as imediações da Cidade de Gaza", afirmaram as forças militares.
Há mais de uma semana, vários bairros da Cidade de Gaza, o maior centro urbano da Faixa, localizado no norte do território, têm sido alvo de intensos bombardeios aéreos e de artilharia.
Os bombardeios na Cidade de Gaza continuaram nesta quinta-feira, segundo várias testemunhas. Muitos moradores fugiram para o oeste e o sul.
"A casa tremeu a noite toda. O som de explosões, artilharia, caças, ambulâncias e gritos de socorro estão nos matando", disse à AFP um deles, Ahmad al-Shanti.
Amal Abdel Al, que fugiu de casa há uma semana, afirmou que os bombardeios não param.
"Ninguém em Gaza conseguiu dormir, nem na noite passada nem na última semana. A artilharia e os bombardeios não param", afirmou.
Sem lugar seguro
O gabinete de segurança do primeiro-ministro Netanyahu autorizou, no início de agosto, um plano para tomar militarmente a cidade e os acampamentos de refugiados adjacentes, além de assumir o controle de toda a Faixa, libertar os reféns e desarmar o Hamas.
Quarenta e nove reféns permanecem em cativeiro no território palestino, mas 27 são considerados mortos, segundo o Exército. Durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra, os milicianos sequestraram 251 pessoas.
Desde o início da guerra, Israel mantém um bloqueio sobre Gaza e controla atualmente 75% do território, onde a operação de retaliação provocou dezenas de milhares de mortes e um desastre humanitário.
Na quarta-feira, o ministro da Defesa, Israel Katz, aprovou a ofensiva na Cidade de Gaza. Segundo a imprensa israelense, Netanyahu deve reunir seu gabinete nesta quinta-feira para dar a aprovação final.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), envolvido nas operações de troca de reféns por prisioneiros palestinos durante as duas tréguas anteriores, classificou como "intolerável" a intensificação das hostilidades.
"Significa mais mortos, mais deslocamentos, mais destruição e mais pânico", disse à AFP o porta-voz do CICV, Christian Cardon.
A agência humanitária da ONU para os Territórios Palestinos também alertou que o plano israelense terá "um impacto humanitário terrível" sobre a população.
"Centenas de famílias foram forçadas a fugir, incluindo muitas com crianças, pessoas com deficiência e idosos que não têm um lugar seguro para ir", disse a organização.
"Desprezo flagrante"
O Hamas, que aceitou a atual proposta de acordo de cessar-fogo, considerou que a operação na Cidade de Gaza demonstra "um desprezo flagrante aos esforços dos mediadores".
Netanyahu "demonstra que é o verdadeiro obstáculo para qualquer acordo, que não se importa com a vida (dos reféns israelenses)", acrescentou o grupo em um comunicado divulgado na quarta-feira.
A proposta é baseada em um plano anterior do enviado americano Steve Witkoff, que havia sido validado por Israel.
O plano prevê a libertação de 10 reféns vivos e a entrega dos corpos de 18 falecidos em troca de um cessar-fogo de 60 dias e de negociações para acabar com a guerra. Os demais reféns seriam libertados após uma segunda fase de negociações, segundo fontes do Hamas e da Jihad Islâmica.
A indignação cresce entre as famílias dos reféns israelenses.
"Há um acordo sobre a mesa que pode salvar a vida dos reféns (...) O Hamas aceitou, mas o gabinete do primeiro-ministro insiste em sabotá-lo, condenando os reféns vivos à morte e os mortos ao esquecimento", denunciou Lishay Miran Lavi, cujo marido, Omri Miran, continua sequestrado.