Um terremoto de magnitude 6 matou mais de 800 pessoas e deixou ao menos 2.800 feridos em duas províncias montanhosas no leste do Afeganistão, informou o Ministério do Interior, controlado pelo Talibã, nesta segunda-feira (1º). Os tremores causaram deslizamento de terras e destruíram várias aldeias. As autoridades deram início às buscas de sobreviventes nos escombros e na lama, e o número de vítimas tende a aumentar.

O desastre deve sobrecarregar ainda mais os recursos já escassos do regime fundamentalista de uma nação devastada pela guerra, que vê uma queda acentuada na ajuda estrangeira até deportações de centenas de milhares de afegãos por países vizinhos.

Sharafat Zaman, porta-voz do Ministério da Saúde em Cabul, pediu ajuda internacional para lidar com as operações de resgate e reconstrução. "Precisamos disso porque aqui muitas pessoas perderam suas vidas e casas", disse ele à agência de notícias Reuters. O Talibã se vê agora com ainda mais necessidade de auxílio do exterior, depois que muitos países cortaram ajuda devido ao retorno do grupo ao poder, há quatro anos.

O terremoto ocorreu próximo à superfície, a apenas oito quilômetros de profundidade —o que, segundo especialistas, pode tornar um tremor ainda mais devastador. O epicentro foi registrado próximo da cidade de Jalalabad, capital da província de Nangarhar, perto da fronteira com o Paquistão e no limite com a província de Kunar, que foi a mais afetada. Após o primeiro, outros cinco tremores foram sentidos a centenas de quilômetros. Apesar da proximidade, não houve danos nem vítimas reportados do lado paquistanês.

Muitas famílias tinham acabado de regressar ao Afeganistão depois de terem sido expulsas do exílio no Paquistão e no Irã. No total, cerca de quatro milhões de afegãos voltaram ao país. Segundo autoridades locais, cerca de 2.000 famílias de refugiados tinham regressado e planejavam reconstruir seu lar na região agrícola afetada pelo sismo.

Em Kunar, com 610 mortos, o terremoto causou deslizamentos de terra e inundações, destruindo pelo menos três aldeias. A região é pobre e montanhosa.

Muitas áreas do Afeganistão são inacessíveis por estradas, e as aldeias dispersas muitas vezes são feitas de estruturas de barro que são suscetíveis a desmoronamentos. O país é propenso a terremotos, particularmente na cordilheira do Hindu Kush, onde as placas tectônicas indiana e eurasiática se encontram.

Socorristas foram enviados de Cabul, segundo as autoridades de saúde, para essas regiões remotas. Helicópteros transportaram vítimas, enquanto moradores ajudavam soldados e médicos a carregar os feridos para ambulâncias.

O terremoto foi um dos mais mortais do Afeganistão. Em outubro de 2023, ao menos 1.300 pessoas morreram após um tremor atingir a província de Herat. Pouco mais de um ano antes, em junho de 2022, tremores de magnitude 6,1 mataram mais de 1.000 pessoas.

Este é, portanto, o terceiro grande terremoto no país desde que o Talibã voltou ao comando em 2021, quando as forças estrangeiras se retiraram, desencadeando um corte no financiamento internacional que formava a maior parte das finanças do regime.

Desde então, o grupo tem empregado medidas que refletem sua visão extremista do islã, em especial contra mulheres. No mês passado, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão para líderes do Talibã por perseguição às afegãs.

Diplomatas dizem que crises em outras partes do mundo, juntamente com a frustração dos doadores com as políticas do Talibã em relação às mulheres, incluindo restrições àquelas que são trabalhadoras humanitárias, estimularam a queda nos repasses.

Mesmo a ajuda humanitária, destinada a contornar instituições políticas para atender necessidades urgentes, diminuiu para US$ 767 milhões este ano, abaixo dos US$ 3,8 bilhões em 2022.

"Até agora, nenhum governo estrangeiro entrou em contato para fornecer apoio para trabalhos de resgate ou ajuda", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.

Em publicação na rede X, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que a missão da organização no país está se preparando para ajudar as áreas devastadas pelo tremor.