Histórico

Alemanha fecha últimos reatores nucleares e inicia nova era

Apesar da crise do gás por causa da guerra na Ucrânia, ministra do Meio Ambiente afirma que os riscos da energia nuclear não são administráveis

Por Agências
Publicado em 15 de abril de 2023 | 16:10
 
 
 
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A Alemanha fecha, neste sábado (15), seus últimos três reatores nucleares, concluindo o abandono desse tipo de energia, um compromisso às vezes incompreendido em um contexto de urgência climática. A principal economia europeia abre um novo capítulo energético, confrontada com o desafio de prescindir dos combustíveis fósseis ao mesmo tempo em que tenta administrar a crise do gás desencadeada pela guerra na Ucrânia. 

“Será um ato muito emocionante para os colegas desligar a usina pela última vez”, afirma Guido Knott, presidente da empresa PreussenElektra, que opera o Isar 2, a poucas horas de seu encerramento. 

À meia-noite, no mais tardar, as centrais Isar 2 (sudeste), Neckarswestheim (sudoeste) e Emsland (noroeste) serão desconectadas da rede elétrica. Desde 2003, a Alemanha já fechou 16 reatores.

O governo alemão concordou em fazer um adiamento de várias semanas em relação à data originalmente prevista, 31 de dezembro, mas sem pôr em xeque virar a página deste tipo de energia no país.

"Os riscos ligados à energia nuclear são, definitivamente, não administráveis", disse a ministra do Meio Ambiente, Steffi Lemke, esta semana.  De fato, preocupam amplos setores da população e deram força ao movimento ambientalista.

Neste sábado, aos pés do Portão de Brandemburgo, em Berlim, a ONG Greenpeace organizou uma despedida do átomo, simbolizado pelos restos de um dinossauro derrotado pelo movimento antinuclear.  "A energia nuclear pertence à história", proclamou a ONG. 

Em Munique, uma "festa pela saída da energia nuclear" reuniu algumas centenas de pessoas, conforme registrado pela AFPTV. 

"Energia nuclear, obrigado", publicou neste sábado o jornal conservador FAZ, destacando os benefícios que, segundo ele, trouxe para a Alemanha. 

Alemanha temia ter que fechar fábricas e ficar sem aquecimento

A invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 poderia ter colocado tudo em suspenso, porque a Alemanha, privada do gás russo, temia os piores cenários possíveis: desde o risco de fechar suas fábricas até ficar sem calefação. No final, o inverno se passou sem desabastecimento, e o gás russo foi substituído por outros fornecedores. 

O consenso em torno do abandono da energia nuclear desmoronou, porém. Segundo uma pesquisa recente do canal público ARD, 59% dos entrevistados acham que abandonar a energia nuclear nesse contexto não é uma boa ideia.

A Alemanha deveria "ampliar a oferta de energia, não restringi-la ainda mais", sob risco de desabastecimento e alta de preços, lamentou o presidente das Câmaras de Comércio alemãs, Peter Adrian, ao jornal Rheinische Post. 

"É um erro estratégico em um ambiente geopolítico que continua tenso", disse Bijan Djir-Sarai, secretário-geral do partido liberal FDP, parceiro do governo de coalizão de Olaf Scholz e ambientalistas. 

As três últimas usinas forneceram apenas 6% da energia produzida no país no ano passado, enquanto a energia nuclear respondia por 30,8% em 1997. 

Em paralelo, o percentual de energias renováveis no total da produção aumentou para 46% em 2022, contra menos de 25% uma década antes. 

"Depois de 20 anos de transição energética, as energias renováveis produzem agora produzem cerca de uma vez e meia mais eletricidade do que a energia nuclear em seu pico na Alemanha", disse à AFP o diretor do centro de pesquisa Agora Energiewende, Simon Müller, especializado em transição energética. 

Carvão resiste

Mas, na Alemanha, primeiro emissor de CO2 da União Europeia, o carvão continua representando um terço da produção de eletricidade, com um aumento de 8% no ano passado para compensar a ausência do gás russo. 

Até a ativista sueca Greta Thunberg criticou Berlim, dizendo que seria melhor continuar usando centrais de energia para reduzir o uso de carvão. 

A Alemanha prefere se concentrar em sua meta de cobrir 80% de suas necessidades de eletricidade com energia renovável até 2030 e fechar suas usinas de carvão até 2038. 

O país tem que “pisar no acelerador” em matéria de energia eólica onshore, alerta Müller. 

Segundo o chanceler alemão, Olaf Scholz, será necessário instalar de quatro a cinco aerogeradores por dia nos próximos anos para cobrir as necessidades. (AFP)

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