Transporte

Autoridade egípcia aponta falha humana em navio encalhado no canal de Suez

Se maré não ajudar, pode ser necessário retirar contêineres para liberar o cargueiro Ever Given

Por AFP
Publicado em 27 de março de 2021 | 19:06
 
 
 
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CAIRO, EGITO. Uma falha humana pode estar por trás do bloqueio do cargueiro Ever Given no Canal de Suez, indicou neste sábado (27) a autoridade responsável pela via, que conecta os mares Vermelho e Mediterrâneo e que 300 embarcações aguardam para atravessar.

O navio, de mais de 220 mil toneladas e com tamanho equivalente a quatro campos de futebol, está encalhado desde a última terça-feira no sul do canal, localizado em território egípcio e pelo qual passam 10% do comércio marítimo internacional, segundo especialistas.

Apesar de o incidente ter sido inicialmente atribuído aos fortes ventos e a uma tempestade de areia, Osama Rabie, presidente da Autoridade do Canal de Suez (SCA), afirmou que "os fatores meteorológicos não foram as únicas razões", e citou "outros erros, humanos ou técnicos".

O bloqueio gera atrasos importantes na entrega de petróleo e outros produtos, que tiveram repercussão no preço da commodity na última quarta-feira. Segundo Rabie, o Egito perdia entre 12 milhões e 14 milhões de dólares por dia de canal fechado. Para a revista especializada "Lloyd's List", o cargueiro bloqueia o equivalente a 9,6 bilhões de dólares em carga diariamente.

Dias ou semanas? 

Os esforços se multiplicam para desencalhar o navio. Escavações avançam nas margens, e dragas removem a terra sob a embarcação desde ontem, para facilitar o trabalho dos rebocadores. "Podemos acabar hoje (27) ou amanhã (28), em função da reação do navio às marés. Colocamos em prática outros planos de emergência", informou Rabie.

Outras fontes estão menos otimistas e acreditam que remover o navio não será fácil. "Com os barcos que teremos no local, a terra que já conseguimos dragar e a maré alta, esperamos que isso seja suficiente para desencalhar o navio no início da próxima semana", disse Peter Berdowski, diretor executivo da Royal Boskalis, a matriz da Smit Salvage, a empresa holandesa contratada para ajudar na operação. Se isso não for suficiente, será necessário retirar os contêineres, para reduzir o peso do cargueiro, advertiu Berdowski, uma solução que levaria muito mais tempo.

A última opção teria como consequência um grande atraso na retomada do tráfego, estimou o especialista Nick Sloane. O mais rápido seria usar dragas e remover a areia, para permitir que o navio volte a flutuar", apontou.

Maré alta

O proprietário do Ever Given espera que o mesmo possa ser desencalhado na madrugada deste domingo. "Estamos eliminando os sedimentos com ferramentas de dragagem adicionais", afirmou Yukito Higaki, presidente da empresa japonesa Shoei Kisen, proprietária do navio, informou a imprensa do Japão. Já a empresa contratada para a operação de liberação do navio mostrou mais prudência e chegou a citar "dias ou até semanas" para resolver o problema.

A gigante do transporte marítimo Maersk e a alemã Hapag-Lloyd informaram ontem que estudavam a possibilidade de desviar seus navios e passar pelo Cabo da Boa Esperança, um desvio de 9.000 km e pelo menos sete dias adicionais de viagem ao redor do continente africano.

Uma maré alta esperada para domingo (28) à tarde pode "ser de grande ajuda" para as equipes técnicas que tentam liberar o navio, afirmou à AFP Plamen Natzkoff, especialista da VesselsValue. "Se não conseguirem liberar o navio, a próxima maré alta não acontecerá antes de 15 dias, o que pode ser problemático", completou. 

 Quase 19.000 navios utilizaram o canal em 2020, segundo a SCA, o equivalente à média de 51,5 por dia. Um relatório da Allianz Global Corporate & Specialty sobre segurança marítima aponta que o "Canal de Suez apresenta um excelente balanço de segurança em seu conjunto, e os incidentes de navegação são extremamente raros, com 75 incidentes na última década".

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