O presidente Joe Biden usou o caso do ataque numa escola do Texas para, em um discurso emocionado, voltar a criticar o lobby pró-armas no país e a defender o controle no acesso a armamentos. Nesta terça-feira (24), um homem de 18 anos entrou em uma escola de ensino fundamental e matou a tiros ao menos 18 crianças e uma professora em Uvalde.
Não são conhecidas ainda as motivações para o ataque, e a identidade das vítimas não foi revelada -o jornal The New York Times apontou que a professora seria Eva Mireles, morta ao tentar defender seus alunos. Segundo a polícia as investigações ainda estão no início, mas tudo indica que o atirador identificado como Salvador Ramos agiu sozinho. Ele era morador de Uvalde, cidade onde cursou o ensino médio. O condado tem 24 mil habitantes e fica a cerca de 100 quilômetros da fronteira com o México.
Biden estava em um voo no momento do ataque, voltando da Ásia. No começo da noite, fez um discurso emocionado na Casa Branca, no qual alternou momentos de tristeza com pedidos de ação.
"Quantas crianças testemunharam o que aconteceu e viram seus amigos morrerem como se estivessem em um campo de batalha? E os pais nunca serão os mesmos. Perder um filho é como ter um pedaço de sua alma arrancado", disse. Uma filha pequena do presidente morreu em um acidente de carro em 1973.
"A ideia de que um garoto de 18 anos possa comprar dois rifles é errada. Fabricantes estão há décadas oferecendo agressivamente armas que geram enormes lucros. Quando, em nome de Deus, vamos nos levantar e enfrentar o lobby das armas?"
Biden falou com lágrimas nos olhos em vários momentos. "Quando me tornei presidente, torci para que não precisasse fazer isso de novo", afirmou. A cena lembrou a do então presidente Barack Obama ao falar sobre o massacre de Sandy Hook, em 2012.
Ataque ocorre dez dias após outra ação similar
O ataque em Uvalde ocorre dez dias depois de outra ação similar. Em 14 de maio, um homem de 18 anos matou dez pessoas negras na cidade de Buffalo, no estado de Nova York. O atirador, Payton Gendron, abriu fogo contra clientes de um supermercado, numa ação transmitida ao vivo pela internet -ambiente no qual também publicou um manifesto para justificar o ataque, baseado em teorias racistas, como a de que os negros estariam tomando o lugar dos brancos na sociedade.
O caso desta terça foi o maior ataque à uma escola primária desde Sandy Hook, em Connecticut. Naquela ocasião, um homem de 20 anos matou 26 pessoas, sendo que 12 eram crianças com idade entre seis e sete anos.
Novos pedidos por restrições no acesso a armas nos EUA foram feitos nesta terça. "Outro ataque a tiros. E o Partido Republicano não fará nada sobre isso. O que diabos somos nós se não conseguimos manter nossas crianças seguras. Isso pode ser prevenido. Nossa inação é uma escolha", publicou Gavin Newsom, governador democrata da Califórnia, em uma rede social.
Em sessão plenária no Congresso, o senador democrata Chris Murphy fez um discurso emocionado. "Por que estamos aqui? Se não para tentar garantir que menos escolas e menos comunidades passem pelo que Sandy Hook passou, pelo que Uvalde está passando?", questionou o parlamentar, de Connecticut.
Em outra fala emocionada, o treinador de basquete Steve Kerr, do Golden State Warriors, fez um apelo para que os senadores tomem ações para evitar novos massacres. "Tivemos crianças assassinadas na escola. Temos que fazer algo. Estou tão cansado de vir aqui e oferecer condolências para as famílias devastadas", disse, entre socos na mesa. "Não podemos sentar aqui, apenas ler sobre isso, ter um momento de silêncio e ter um jogo de basquete [...] É patético. Já tive o suficiente."
Ken Paxton, republicano que é procurador-geral do Texas, sugeriu que uma saída para evitar ataques assim seria armar os professores. "Agentes geralmente não conseguem chegar a tempo para conter um ataque. Temos que fazer mais coisas nas escolas, ter pessoas no local treinadas para reagir", disse, em entrevista ao canal Newsmax.
O estado foi cenário de outro ataque em 2019, quando um atirador matou 23 pessoas em um supermercado em El Paso, cidade que faz fronteira com o México. O autor do crime, que tinha 21 anos na época, havia publicado um manifesto contra os imigrantes latinos. (Folhapress)