Mau humor

Brexit arrasa mercado, derruba a libra, e bancos perdem 30%

Queda generalizada é explicada pela surpresa dos agentes financeiros com o resultado do referendo


Publicado em 25 de junho de 2016 | 03:00
 
 
 
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Londres, Reino Unido. A vitória do Brexit no referendo do Reino Unido abalou os mercados ontem, em particular as ações dos bancos, e provocou uma fuga dos investidores para os chamados “valores refúgio” – que são valores alternativos para os fundos de investimentos.

A libra esterlina chegou a cair ao menor valor em 31 anos em relação ao dólar, com uma desvalorização de 12% (a US$ 1,3229), mas depois voltou a subir. Às 21h GMT (18h do horário de Brasília), registrou queda de 8,8%, a US$ 1,3670.

O euro foi cotado a US$ 1,1111, abaixo do US$ 1,142 do fechamento de quinta-feira. Durante a noite, à medida que se configurava a vitória do Brexit, a moeda única chegou a cair para US$ 1,0913, seu mínimo em quatro meses.

As bolsas europeias também despencaram ontem, com perdas que superaram os 12% em Milão e Madri – esta última teve o pior índice em toda a sua história.

Ladeira abaixo. O dia funesto começou na Ásia, onde o índice Nikkei da Bolsa de Tóquio caiu 7,92%, enquanto o Hang Seng de Hong Kong perdeu 2,92%.

Nos Estados Unidos, Wall Street também fechou com forte queda: o Dow Jones caiu 3,39% e o Nasdaq recuou 4,12%%. O S&P 500 recuou 3,60%.

“Os britânicos votaram pelo Brexit, apesar das advertências da enorme maioria dos especialistas econômicos. Não há surpresa no fato de que essa manhã (ontem) os resultados do referendo provoquem ressacas nos mercados financeiros globais”, disse Daniel Vernazza, economista da Unicredit Research.

Os bancos foram os mais afetados pela queda generalizada. Em Londres, o Royal Bank of Scotland (RBS) perdia 18,08%, o Barclays 18,64% e o Lloyds Banking Group 21,34%. Estimativas apontam que os bancos ingleses tenham perdido US$ 100 bilhões em valor – ou 30%.

Em Madri, o Santander, maior banco da Eurozona em capitalização e com o Reino Unido como seu principal mercado, perdia 18,63% e o BBVA recuava 15,93% até o fechamento dos mercados.

O Banco Central Europeu (BCE) afirmou que o sistema bancário da Eurozona é “resistente em termos de capital e liquidez”, ao mesmo tempo que se declarou disposto a aportar euros e outras divisas para ajustar as engrenagens de crédito. “A vitória do Brexit é um dos maiores choques de todos os tempos”, afirmou Joe Rundle, diretor de operações na Bolsa da ETX Capital. “É difícil medir o alcance dos danos aos ativos, mas, no mínimo, podem ser os piores desde o Lehman Brothers”, completou, em referência ao colapso do banco de Wall Street que em 2008 precipitou a crise financeira global.

As perdas também afetaram o setor de petróleo. O preço do barril de referência (WTI) para entrega em agosto caiu para US$ 47,64.

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Sexta-feira tensa

US$ 100 bi É a estimativa de perdas dos bancos ingleses em valores de ações negociadas. 

US$ 1,11 Foi a cotação do euro ontem, abaixo de US$ 1,14 fechado no dia anterior ao Brexit.

12%. As bolsas de Milão e Madri foram as que mais sofreram, com perdas acima dos 12%.

Investimento

Refúgio. A moeda japonesa é considerada um valor refúgio em momentos de incerteza, mas sua valorização prejudica o setor exportador. Já o ouro alcançou o maior valor desde 2014 e foi negociado a US$ 1.315,50 a onça.

Moody’s revê nota

Rebaixamento. A Moody’s rebaixou ontem de estável para negativa a perspectiva da nota do Reino Unido após a vitória do Brexit, em um sinal de que sua nota poderá ser reduzida em um futuro próximo. A agência prevê “um prolongado período de incerteza” que terá “implicações negativas sobre as perspectivas de crescimento a médio prazo” da economia britânica. A nota da dívida foi mantida em Aa1.

De olho no Brasil

Banco Central. Em nota, o Banco Central brasileiro destacou que está monitorando os mercados financeiros após o referendo e que, caso necessário, “adotará as medidas adequadas para manter o funcionamento normal dos mercados financeiro e cambial”. “O BC ganhou no gogó, conseguiu tranquilizar um pouco o mercado”, disse um operador do mercado.

Estrutura ‘capenga’

Tripé extinto. O professor Otto Nogami, do MBA do Insper, afirma que o Brexit significa a extinção de uma das bases do tripé no qual está apoiada a UE. “Toda a estrutura da UE está baseada na Alemanha, França e Reino Unido. Na medida em que se tira um deles, a estrutura fica capenga. São as três economias mais fortes e representativas, e tirar uma delas desestabiliza a economia do bloco”.

Futuro incerto

Brexit. A saída do Reino Unido da UE agrava as incertezas sobre a economia mundial, que ainda não se recuperou de todo da crise de 2008. “Estamos entrando em um território completamente desconhecido, onde a única certeza é a incerteza”, afirmou Jean-Michel Six, economista-chefe para Europa da agência de classificação de risco SP Global Rating.

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