A capitã do navio humanitário "Sea-Watch", bloqueado com 40 migrantes a bordo na costa da Itália, forçou na madrugada de sábado (29) o cerco imposto à embarcação e entrou no porto de Lampedusa, onde foi imediatamente detida.
O ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, denunciou um "ato criminoso, um ato de guerra", pediu a prisão da alemã Carola Rackete, de 31 anos, e prometeu embargar o navio, além de impor uma forte multa para a ONG.
Na quarta-feira, a capitã violou o bloqueio ao navio imposto por Salvini, principal dirigente do partido Liga (extrema-direita). Mas o "Sea-Watch" teve que parar a apenas uma milha do pequeno porto de Lampedusa.
O "Sea-Watch", de bandeira holandesa, resgatou em 12 de junho um grupo de 53 migrantes que estavam à deriva em uma balsa inflável perto da costa da Líbia.
Rackete, após 60 horas "incrivelmente tensas" para os migrantes, de acordo com suas palavras na sexta-feira, finalmente decidiu forçar o bloqueio, apesar da presença de um barco da polícia responsável por impedir sua passagem.
"Ficamos na frente para impedir a entrada no porto, mas não adiantou. Se ficássemos no caminho, (o "Sea-Watch") teria destruído nossa lancha", afirmou um policial.
Um pouco antes das 3H00 locais, a polícia subiu a bordo e prendeu Carola Rackete. A capitã, que pode ser condenada a até 10 anos de prisão, desceu do navio escoltada por agentes, sem algemas.
Manifestantes favoráveis e contra o gesto de Rackete se reuniram no porto de Lampedusa.
A Liga de Salvini recebeu 45% dos votos nas eleições europeias de maio nesta ilha, que há 30 anos está na linha de frente da chegada de migrantes.
Durante a manhã, Rackete foi colocada em prisão domiciliar. Nas próximas 48 horas acontecerá uma audiência, informou o advogado Leonardo Marino, antes de afirmar que a alemã está "cansada e estressada".
"As razões humanitárias não podem justificar atos inadmissíveis de violência contra aqueles que usam seu uniforme no mar para a segurança de todos ", disse Luigi Patronaggio, promotor de Agrigente (Sicília), ao qual está vinculada Lampedusa.
De acordo com fontes policiais citadas pela imprensa italiana, Carola Rackete estava calma na delegacia e pediu perdão pelos riscos que sua manobra provocou para o pequeno barco das forças da ordem.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, pediu no sábado um "rápido esclarecimento" das acusações contra Rackete. "Salvar vidas é uma obrigação humanitária, o salvamento no mar não pode ser criminalizado", argumentou.
A Promotoria já havia anunciado a abertura de uma investigação contra a capitã por tráfico ilegal de seres humanos e por não respeitar a ordem de um navio militar italiano de não entrar nas águas territoriais da Itália.
"Estamos orgulhosos de nossa capitã", escreveu no Twitter o diretor da ONG, Johannes Bayer. "Fez o que era necessário, insistiu no direito marítimo e colocou estas pessoas em um ambiente seguro", completou.
Os migrantes desembarcaram pouco depois das 5H30 e foram levados para centros de abrigo da ilha. Após intensas negociações diplomáticas, devem ser distribuídos entre cinco países europeus: França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal e Finlândia.
Apesar da postura de Salvini, em Lampedusa desembarcaram mais de 200 migrantes durante as duas semanas em que o Sea-Watch permaneceu bloqueado diante da ilha.
O ministro italiano advertiu outras ONGs que não poderão desembarcar pessoas no país e exige que permitam o auxílio da Guarda Costeira da Líbia.