A Gilead Sciences, uma das principais empresas farmacêuticas do mundo, está enfrentando um processo movido por aproximadamente 26 mil pessoas nos Estados Unidos. Elas acusam a empresa de ter deliberadamente atrasado o lançamento de um promissor medicamento de combate ao HIV em prol de maximizar seus lucros. As informações foram divulgadas pelo The New York Times.

No ano de 2004, a Gilead teria interrompido o desenvolvimento de um novo medicamento antiviral, alegando que sua eficácia não era significativamente melhor do que um produto já existente no mercado, cuja patente pertencia à própria empresa e levaria tempo para expirar. No entanto, por trás dessa justificativa, havia um plano para buscar lucratividade máxima. De acordo com a acusação, a companhia pretendia manipular o sistema de patentes dos Estados Unidos para assegurar monopólios vantajosos sobre medicamentos mais vendidos.

Na época, a Gilead detinha a responsabilidade por dois dos principais tratamentos contra o HIV, ambos baseados em uma versão do tenofovir. Os executivos da empresa sabiam que o novo medicamento tinha o potencial de ser menos tóxico para os rins e ossos dos pacientes, em comparação com o produto já disponível no mercado. Contudo, por receio de que o novo remédio competisse com o tenofovir, a Gilead atrasou deliberadamente o lançamento do novo produto em vários anos.

A estratégia era lançar o medicamento pouco antes do vencimento das patentes dos fármacos já disponíveis no mercado. Dessa forma, a empresa poderia transferir os pacientes para o novo produto pouco antes do lançamento de medicamentos genéricos. Somente em 2015, quase uma década após a interrupção do desenvolvimento, o novo tratamento foi divulgado. As patentes desse produto têm validade até 2031.

A acusação destaca que esse atraso intencional expôs cerca de 26 mil pacientes que receberam os medicamentos mais antigos da Gilead a riscos desnecessários de problemas renais e ósseos. A Gilead negou as acusações durante o processo, classificando-as como "infundadas". A defesa argumentou que a empresa não parou intencionalmente a produção do medicamento para aumentar os lucros com patentes. Eles apresentaram um memorando interno de 2004 que estimava que a farmacêutica poderia aumentar sua receita em US$ 1 bilhão ao longo de seis anos se lançasse a nova versão em 2008.

Caso a Gilead tivesse continuado o desenvolvimento do medicamento em 2004, as patentes do medicamento considerado promissor já teriam expirado ou estariam prestes a expirar. Com o atraso, a empresa garante mais alguns anos de exclusividade sobre o produto, impedindo a entrada de medicamentos genéricos no mercado. (Com UOL)