Causa Gay

'Exército dos Anjos' de Orlando: um escudo contra o ódio aos LGBTs

Em 12 de junho do ano passado, Omar Mateen atacou a boate Pulse; 49 pessoas morreram e 58 ficaram feridas

Por AFP
Publicado em 10 de junho de 2017 | 13:21
 
 
 
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Quando um homem matou a tiros 49 pessoas em uma boate gay em Orlando, Flórida, há um ano, Jen Vargas decidiu fazer algo pela comunidade. Colocou um par de asas e uniu-se ao "Exército de Anjos" que protege a comunidade LGBT do público contrário a eles.

No dia 12 de junho do ano passado, Omar Mateen atacou a boate Pulse e, jurando lealdade ao grupo Estado Islâmico, deixou 49 mortos e 58 feridos, antes de ser morto pela polícia.  "O atentado na boate Pulse me abalou bastante. Foi ofensivo, revoltante, me deixou muito triste. Não sabia o que fazer para ajudar", disse Vargas, enquanto vestia as asas feitas de canos de PVC e tecido branco. 

O Exército de Anjos foi formado logo depois a tragédia, enquanto um grupo conservador organizava um protesto contra os homossexuais para acontecer durante os funerais de várias das vítimas.

Em resposta, voluntários vestiram grandes asas com tecido branco e colocaram-se estrategicamente todos um ao lado do outro.

Assim, os anjos bloquearam a visão dos manifestantes da Westboro Baptist Church, uma organização religiosa prioritariamente contra homossexuais, que possui um cartaz dizendo: "Deus odeia os gays".

"Quando percebi que a Westboro Baptist Church iria protestar nos funerais das vítimas, eu pensei 'chega'", lembra Vargas.

Desde então, ela e o grupo vêm protegendo funerais e os tributos da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, e trans) em Orlando.

"Isso é o que quero fazer para contribuir com a cura. Ser uma parede entre o ódio e o amor", afirma a ativista de 39 anos, antes de entrar com outros quatros anjos ao anfiteatro da Administração de Veteranos de Orlando, que organiza um tributo às vítimas da aquele atentado.

Dessa vez os anjos não precisam bloquear a visão dos manifestantes, apenas transmitir tranquilidade. Resistem em silêncio ao peso das asas que carregam enquanto acontecem os discursos de homanagem e o coral gay de Orlando atua. Os cantores enxugam as lágrimas nas pausas entre as músicas.

"Ver os anjos nesses eventos me traz um grande sentimento de esperança e paz", contou à AFP Shannon Graves, gerente de operações do Centro LGBT da Flórida, e capitã do "exército". "Não é necessário identificá-los a algo trágico".

"Orlando Unida"

Na segunda-feira (12), quando completa um ano do massacre mais mortífero ocorrido nos Estados Unidos desde os atentados de 2001, eles irão se dispor pela boate Pulse e no lago Eola, onde se concentrarão as homenagens.

Percebe-se desde já que Orlando está imersa em recordações.

Ns postes há cartazes em que se pode ver escrito "Orlando Unido". Na área que cerca a boate Pulse foram colocados cartazes nas cores do arco-íris com mensagens como "O amor vence". Velas, bichinhos de pelúcia e flores foram espalhados pelas proximidades da boate, que se tornará um museu.

Essa cidade no centro da Flórida é principalmente caracterizada por abrigar parques temáticos da Disney e da Universal, mas muitos atentam para o fato de que é conhecida por ser um dos destinos mais "gay friendly" dos Estados Unidos.

"Continuarei sendo um anjo, atuando contra o ódio", declara Vargas. "A tolerância e a compaixão que temos aqui em Orlando será mantida".

Um símbolo poderoso

Yasmin Flasterstein é diretora de um programa de apoio às vítimas da boate Pulse criado pela Associação de Saúde Mental do Centro da Flórida. Segundo ela, o trabalho dos voluntários do Exército de Anjos na cidade tem tido um impacto bastante positivo.

"A melhor maneira de combater o ódio é com o amor, e eles trouxeram essa ideia de anjos enormes como símbolo de amor", ressalta à AFP. 

A ideia original vem de 1988, quando o jovem  Matthew Shepard foi torturado e assassinado em Wyoming por sua orientação sexual. Logo, a Westboro Baptist Church convocou uma manifestação para o dia de seu funeral.

Um amigo de Matthew criou então um traje de anjo com grandes asas desenhadas para não permitir a visão de manifestantes durante o momento fúnebre.

Dezoito anos depois, a ideia ressurgiu, quando a mesma igreja convocou protestos para ocorrerem nos funerais das vítimas.

A Universidade Central da Flórida (UCF) e a companhia de teatro Shakespeare de Orlando confeccionaram os trajes e formaram pela primeira vez a "Força dos Anjos".

Esses protestos antigay "foram muitos desagradáveis", lembra Graves. "Pessoas como nós não compreendem esse tipo de coisa, mas o exército de anjos posicionou-se lá com muita atitude".

Seis meses depois, os criadores da ação entregaram os trajes durante uma cerimônia solene aos membros do Centro LGBT. Uma das vestimentas foi doada ao museu Smithsonian de Washington.

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