Críticas

Ganhadores do Nobel pedem que Milei reverta cortes orçamentários na Ciência

Vencedores do prêmio afirmam que a ciência argentina se aproxima de um perigoso precipício e pedem que o presidente do país repense a decisão

Por Agências
Publicado em 06 de março de 2024 | 20:47
 
 
 
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Em uma carta endereçada nesta quarta (6) ao presidente Javier Milei, 68 ganhadores do Prêmio Nobel afirmam que a ciência argentina "se aproxima de um perigoso precipício" e pedem que o novo mandatário volte atrás em cortes orçamentários a instituições de ensino e pesquisa do país.

"Escrevemos com respeito e profunda preocupação. Observamos como o sistema argentino de ciência e tecnologia se aproxima de um perigoso precipício, e nos desencorajam as consequências que esta situação poderia ter tanto para o povo argentino quanto para o mundo", escrevem eles.

Carregando uma motosserra como símbolo de campanha, Milei aposta num profundo corte de gastos para equilibrar as contas públicas, parar de emitir dinheiro e frear a altíssima inflação argentina em alguns meses. Segundo ele próprio, já foram demitidos 50 mil servidores e retirados programas sociais de 200 mil pessoas.

No texto de duas páginas, os cientistas dizem ver com preocupação a eliminação do Ministério da Ciência e Tecnologia - que foi excluído junto com metade das pastas e agora está dentro da Chefia de Gabinete de Ministros-, assim como o desligamento de funcionários administrativos de instituições pelo país.

"Tememos que a Argentina esteja abandonando seus cientistas, estudantes e futuros líderes da ciência. Nos preocupa que a dramática desvalorização dos orçamentos do Conicet [Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnica] e das universidades nacionais reflita não apenas uma dramática desvalorização da ciência argentina, mas também uma desvalorização do povo argentino", dizem.

A carta também é endereçada ao chefe do Gabinete de Ministros, Nicolás Posse, ao presidente do Conicet, Daniel Salamone, e aos senadores e deputados argentinos, que estão sendo pressionados pelo governo a aprovarem as reformas liberais de Milei no Congresso, incluindo a "lei ônibus" e um megadecreto.

"Muitos problemas, oportunidades e soluções são locais, regionais ou nacionais, e não deve haver expectativa de que os investimentos e os investidores de outras nações forneçam o conhecimento e os recursos necessários para abordar esses problemas", argumentam os cientistas.

As assinaturas incluem 26 ganhadores do Nobel de medicina, 21 de química, 20 de física e 1 de economia, que receberam os prêmios de 1979 a 2023. Entre eles está o húngaro-austríaco Ferenc Krausz, do trio de físicos que venceu no ano passado por descobrir como usar pulsos de luz para estudar os elétrons, dos quais depende grande parte das tecnologias atuais.

Os pesquisadores listam grandes feitos da ciência argentina a Milei: "Se não fosse pela ciência e pelos cientistas argentinos, as causas e o tratamento do câncer, diabetes e doenças cardiovasculares teriam continuado sendo um mistério por décadas a mais [...]. O mundo ignoraria como os Andes foram formados e a incrível fauna que habitou o continente há milhões de anos".

Citam que foi o único país da região que desenvolveu sua própria vacina contra a Covid-19, que construiu e lançou satélites de comunicações e construiu reatores nucleares de última geração que, além de terem sido exportados, gerarão um suprimento interno de equipamentos de radiação cruciais para uso médico.

"A Argentina ocupa o décimo lugar no mundo em número de empresas de biotecnologia, um feito notável que promete grandes avanços em medicina e agricultura. Usando engenharia genética, um grupo financiado com fundos públicos desenvolveu variantes genéticas de trigo bem-sucedidas que são resistentes à seca", enumeram.

Por último, os cientistas pedem que Milei restabeleça os orçamentos cortados. "Congelar os programas de pesquisa e diminuir o número de estudantes de doutorado e de pesquisadores jovens provocará a destruição de um sistema que levou muitos anos para ser construído, e que exigiria muitos, muitos mais para ser reconstruído", afirmam. (Júlia Barbon / Folhapress)

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