800 mil mortes

Homem acusado de 'financiar' o genocídio de Ruanda será julgado em setembro

Félicien Kabuga, que era um dos homens mais procurados do mundo, foi detido em maio de 2020 perto de Paris, depois de passar 25 anos foragido

Por Agência
Publicado em 18 de agosto de 2022 | 09:39
 
 
 
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O homem acusado de "financiar" o genocídio de Ruanda de 1994, Félicien Kabuga, começará a ser julgado em Haia em 29 de setembro, acusado de genocídio e crimes contra a humanidade. Kabuga, que era um dos homens mais procurados do mundo, foi detido em maio de 2020 perto de Paris, depois de passar 25 anos foragido, e transferido para Haia.

Ele é acusado de participar na criação das milícias hutu Interahamwe, as principais forças armadas do genocídio de 1994 que provocou 800.000 mortes, segundo a ONU, em particular entre a minoria tutsi. "A câmara ordena que o julgamento comece na unidade de Haia com as alegações iniciais em 29 de setembro... e que os depoimentos comecem em 5 de outubro", afirmou o juiz Iain Bonomy, do Mecanismo para Tribunais Criminais Internacionais (MTPI).

Kabuga, 89 anos, ouviu a declaração do juiz com fones de ouvido. Ele foi levado para o tribunal em uma cadeira de rodas. A princípio ele compareceria ao tribunal de Arusha, que tem uma unidade do MTPI, mas os juízes decidiram que deve permanecer em Haia.

Os advogados de defesa tentaram interromper o processo por motivos de saúde, mas os juízes consideraram em junho que ele estava apto para ser julgado. Bonomy afirmou que o réu comparecerá ao tribunal "três vezes por semana durante duas horas cada dia".

Kabuga está preso na unidade de detenção do tribunal, a poucos quilômetros de distância. Ele terá permissão para acompanhar as audiências por videoconferência em caso de necessidade, anunciou o juiz.  Ao ser questionado se tinha algo a declarar ao tribunal, Kabuga afirmou a Bonomy que deseja mudar de advogado.

Anos como foragido 

O advogado Emmanuel Altit declarou que o cliente é inocente durante sua primeira audiência em Haia, em novembro de 2020. Kabuga enfrenta seis acusações, incluindo uma de genocídio e três de crimes contra a humanidade: perseguição, extermínio e assassinato. A ONU afirma que 800.000 pessoas foram assassinadas em Ruanda em 1994, durante um massacre de 100 dias que chocou o mundo.

Kabuga, aliado do então partido governante de Ruanda, supostamente ajudou a criar o grupo de milícia hutu Interahamwe e a Rádio-Televisão Livre das Mil Colinas (RTLM), cujos programas incitavam os assassinatos. A RTLM também identificava os esconderijos dos tutsis, segundo os promotores do processo. Mais de 50 testemunhas devem comparecer ao julgamento.

Os promotores afirmam que Kabuga controlava o conteúdo das transmissões da RTLM e dava as ordens, incitava, criava, facilitava e não tomava medidas para impedir a divulgação das mensagens de ódio. Ele também é acusado de ter contribuído para a compra em larga escala de facões que foram distribuídos aos milicianos, sob ordens de matar tutsis.

Em julho de 1994, Kabuga se refugiou na Suíça antes de ser expulso e depois seguiu temporariamente para Kinshasa. Em 1997 foi localizado em Nairóbi, mas conseguiu escapar de uma operação para prendê-lo, assim como de outra em 2003, segundo a ONG especializada TRIAL.

De acordo com as autoridades francesas, ele também viveu na Alemanha e na Bélgica. O governo dos Estados Unidos chegou a oferecer uma recompensa de cinco milhões de dólares por sua prisão. (AFP)

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