Votação

Impeachment de Trump é aprovado pela Câmara dos Deputados nos EUA

Pedido foi feito após invasão do Congresso americano por apoiadores do atual presidente

Por AFP com Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2021 | 18:24
 
 
 
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O presidente dos Estados Unidos Donald Trump sofreu impeachment na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (13). Foram  232 votos a favor, incluindo todos os democratas e dez republicanos, e  197 votos contra.  O processo segue agora para votação no Senado norte-americano, que não deve começar até que Trump já não esteja mais no cargo.

O pedido foi feito e encorajado após Trump encorajar a invasão ao Congresso na última semana. Faltam apenas sete dias para que seu mandato seja finalizado e o democrata Joe Biden assuma a presidência. A posse do 46º presidente dos Estados Unidos está marcada para 20 de janeiro.

Desonra

Trump encerrará seu mandato com desonra, e enfrentará depois o julgamento no Senado, e se for condenado, provavelmente será impedido de disputar a Presidência de novo em 2024.

"Donald Trump merecidamente se tornou o primeiro presidente da História americana com a mácula de enfrentar o impeachment duas vezes", disse o senador democrata Chuck Schumer, que se tornará líder da Câmara alta em uma semana.

Na Câmara de Representantes, a pergunta era apenas quantos republicanos haviam se unido à maioria democrata na votação por 232 a 197. Na contagem final, dez republicanos romperam com suas fileiras, inclusive a número três do partido na casa, Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney.

Com Washington sob tensão sete dias após o ataque ao Capitólio, Trump pediu calma. 

"Insisto para que NÃO haja violência, NÃO sejam cometidos delitos e NÃO haja vandalismo de nenhum tipo. Isso não é o que eu defendo, nem tampouco o que os Estados Unidos defendem", afirmou em um comunicado emitido pela Casa Branca.

Pouco antes, a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, acusou Trump de ter incitado uma "rebelião armada" ao pedir votos pela sua deposição. 

"O presidente dos Estados Unidos incitou esta insurreição, esta rebelião armada", declarou a líder democrata antes da votação da acusação formal pelo ataque ao Capitólio que deixou cinco mortos e chocou o mundo. 

"Deve partir. É um perigo claro e presente para a nação que todos amamos", disse ela em um Congresso entrincheirado.

A sete dias da posse de Joe Biden, Washington, sob um forte esquema de segurança, estava irreconhecível.

Militares no Capitólio

As imagens eram impactantes: dezenas de militares da reserva passaram a noite dentro do Congresso. Muitos dormiam no chão das salas e corredores.

Blocos de concreto separavam os cruzamentos principais do centro da cidade; enormes barreiras de metal cercavam prédios federais, incluindo a Casa Branca, e a Guarda Nacional estava por todos os lados. 

Os debates na Câmara dos Representantes começaram às 9h locais (11h de Brasília) e a votação do impeachment, às 15h locais (17h de Brasília).

Seu resultado marcou a abertura formal do processo de impeachment contra o 45º presidente americano.

As intervenções dos congressistas foram enérgicas. Trump é um "tirano", lançou a democrata Ilhan Omar. "Não podemos virar a página sem fazer nada", disse ela.

A republicana Nancy Mace afirmou que o Congresso deveria exigir que o presidente fosse responsabilizado por suas ações, mas considerou irresponsável agir de "forma precipitada".

Havia nuances nos discursos dos republicanos. O líder desse bloco na Câmara, Kevin McCarthy, reconheceu que Trump tem "responsabilidade" pelos distúrbios, mas considerou um erro submetê-lo a um impeachment em um curto espaço de tempo. Em vez disso, propôs uma declaração de "censura", que na prática tem um efeito basicamente simbólico.

Cada vez mais isolado, o tempestuoso presidente tentou na terça-feira minimizar o procedimento contra ele, descrevendo-o como uma "continuação da maior caça às bruxas da história política". 

Poucos dias antes de partir para sua residência em Mar-a-Lago, Flórida, onde sua nova vida como "ex-presidente" deve começar, o magnata republicano parecia cada vez mais desconectado do que está acontecendo na capital americana.

Nenhum representante de seu partido apoiou o impeachment anterior em 2019, e apenas um senador, Mitt Romney, votou para condená-lo. O presidente foi então absolvido da acusação de reter ajuda financeira para obrigar a Ucrânia a investigar uma suposta corrupção de seu adversário político Biden.

Mas desta vez, o cenário é diferente.

Virar a página?

Em um sinal do que pode preocupar Trump e seu possível futuro político,  Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, disse a seus aliados, segundo reportagens do New York Times e da CNN, que via o "impeachment" favoravelmente, considerando que o julgamento tem fundamento e ajudaria o Partido Republicano a virar a página de Trump para sempre.

Em nota a seus colegas, McConnell afirmou nesta quarta que não tomou ainda uma decisão sobre o impeachment do presidente Donald Trump e não descarta votar a favor. "Pretendo ouvir os argumentos legais quando forem apresentados no Senado", disse.

Este estrategista inteligente, aliado altamente influente e crucial de Trump por quatro anos, pode ser a chave para o resultado desse processo histórico, porque poderia encorajar senadores republicanos a condenar o 45º presidente americano.

Os democratas assumirão o controle da Câmara alta em 20 de janeiro, mas precisarão convencer muitos republicanos para obter a maioria de dois terços necessária para a condenação.

De Álamo, no Texas, para onde viajou para comemorar a construção do muro na fronteira com o México, ele tentou mostrar uma imagem menos agressiva, pedindo "paz e calma". 

O presidente não assumiu nenhuma responsabilidade pelo incidente violento no Capitólio, garantindo que seu discurso foi "totalmente adequado". 

Seu vice-presidente, Mike Pence, se recusou a invocar a 25ª Emenda à Constituição, que permitiria declarar o republicano inapto para o cargo.

Apesar dessa rejeição, a Câmara de Representantes aprovou uma resolução simbólica pedindo que ele invocasse essa emenda. 

Ainda contando com o apoio de alguns parlamentares, o presidente está mais isolado do que nunca após uma série de renúncias em seu governo. 

Criticado por sua demora em enviar a Guarda Nacional na quarta-feira, o Pentágono destacou até 15.000 membros para a posse. 

Inicialmente mobilizados para fornecer apoio logístico à polícia, seus integrantes começaram a portar armas na noite de terça-feira.

A exemplo da tensão que reina em Washington, o Airbnb anunciou o cancelamento e bloqueio das reservas em sua plataforma na capital federal durante a semana da posse do futuro presidente dos EUA e o Google anunciou que a partir de quinta-feira bloqueará toda publicidade política.

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