Com o aumento de casos de Covid-19 na Índia, mesmo após o país impor o confinamento mais rígido do mundo, as exportações de vacinas foram suspensas. A informação foi divulgada pelo twitter do médico Eric Feigl-Ding, responsável pelos dados sobre a Covid-19 divulgados pelo monitor da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Com a medida, o Brasil pode sofre novos atrasos na entrega do imunizante.
"QUEBRANDO - devido ao aumento de casos # COVID19, a Índia congelou todas as principais exportações de AstraZeneca feita pelo Serum Institute of India, o maior fabricante mundial de vacinas, para atender à demanda doméstica conforme aumentam as infecções. Isso também atrasará o fornecimento para a COVAX", publicou o especialista.
BREAKING—due to surging #COVID19 cases, India 🇮🇳 has frozen all major exports of AstraZeneca #COVIDVaccine made by Serum Institute of India, world’s biggest vaccine-maker, to meet domestic demand as infections rise. This will also delay supplies to COVAX.https://t.co/h2bB25EA12
— Eric Feigl-Ding (@DrEricDing) March 24, 2021
A empresa indiana que fornecerá vacinas Aztrazeneca/Oxford para o Brasil já havia informado que iria atrasar a entrega de uma nova remessa de imunizantes. O governo Jair Bolsonaro (sem partido) confirmou no domingo (21) que o cronograma pode sofrer alterações.
O Instituto Serum, da Índia, é responsável pela produção de doses fornecidas ao país. O fornecimento será adiado para o Brasil, Arábia Saudita e Marrocos, segundo informação publicada pelo jornal Índia Times. Isso ocorreu por causa de pressões para o fornecimento dos imunizantes para as necessidades da Índia.
A notícia da suspensão das exportações vem quando a Índia deseja acelerar a vacinação de seu 1,3 bilhão de habitantes, enquanto o país registra o aumento de contágios que ameaça minar os esforços feitos para superar o vírus.
O primeiro-ministro Narendra Modi anunciou em março de 2020 o confinamento total do país para "salvar seus cidadãos" do coronavírus, mas a medida levou milhões de trabalhadores pobres às estradas. Depois de perderem o emprego da noite para o dia, estas pessoas abandonaram as grandes cidades para retornar ao campo, inclusive a pé. Muitas morreram no caminho.
O segundo país mais populoso do mundo registrou mais 11,7 milhões de casos de covid-19 e mais de 160.000 mortes, a terceira nação mais afetada do planeta, atrás de Estados Unidos e Brasil.
Apesar dos números, as autoridades expressaram otimismo sobre a capacidade de combater de modo eficaz o coronavírus, destacando a baixa taxa de mortalidade registrada no país.
O maior fabricante de vacinas do mundo iniciou uma campanha ambiciosa para imunizar 300 milhões de pessoas até o fim de julho, mas o projeto está atrasado, com apenas 50 milhões de pessoas vacinadas até o momento.
E o aumento de casos, com mais de 40.000 novos contágios por dia, ameaça o progresso alcançado. A taxa era de menos de 9.000 no início de fevereiro, após o pico de 100.000 diários em setembro. As restrições foram flexibilizadas gradualmente, e a economia começou a mostrar recuperação.
O estado de Maharashtra, onde fica a capital financeira Mumbai, está sendo novamente muito afetado, porém, e se viu obrigado a impor confinamentos localizados e testes obrigatórios em áreas com muito movimento.
"Vacinar não é uma solução mágica"
"Temos que reconhecer que atualmente enfrentamos um número crescente de casos em muitas regiões do país, e a vacinação deve ser um aspecto-chave no conjunto da resposta estratégica", disse à AFP o especialista em saúde, Anant Bhan.
O enorme país do sul da Ásia começou a vacinação pelos profissionais da saúde que estão na linha de frente, pessoas com mais de 60 anos e com mais de 45 e doenças graves, em janeiro. A partir de abril, todas as pessoas com mais de 45 poderão ser imunizadas.
Anand Krishnan, professor de Medicina comunitária no instituto indiano de Ciências Médicas de Nova Délhi, afirma que a "abordagem burocrática da vacinação" atrapalha a campanha.
Os funcionários devem ser mais flexíveis, afirmam outros especialistas, e facilitar o acesso à vacinação dos mais pobres e idosos, inclusive em estabelecimentos privados.
Eles apontam que é essencial educar as comunidades sobre a necessidade de imunização para vencer as dúvidas. Também é primordial resolver as dificuldades endêmicas de um sistema de saúde com falta de financiamento.
Quase três milhões de vacinas diárias foram adicionadas na comparação com o plano original, mas a campanha continua abaixo da meta do governo.
"Deveríamos chegar a 10 milhões de vacinas diárias", afirmou à AFP Gautam Menon, professor de Física e Biologia na Universidade de Ashoka (Haryana, norte).
"É a única maneira real que nos permitirá superar este problema terrível a longo prazo", completou.
Os especialistas opinam que a campanha poderia ser intensificada nas regiões mais afetadas para conter a nova onda de contágios. Também afirmam que o governo não deve apostar apenas em seu aplicativo oficial para fazer as pessoas serem vacinas, em um país no qual o acesso à Internet e a telefones celulares ainda não foi democratizado.
E também recordam que os gestos de proteção continuam sendo mais do que nunca essenciais, com alertas contra as grandes reuniões, religiosas, políticas e de outras finalidades. Porque, afirma Anant Bhan, "as vacinas não são uma solução mágica".