Política de imigração

Juiz ordena que EUA restaurem proteção a jovens imigrantes

Magistrado determinou restauração do programa que impede deportação de imigrantes que entraram no país quando crianças; medida é revés para Trump

Por Folhapress
Publicado em 06 de dezembro de 2020 | 13:00
 
 
 
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Um juiz federal dos Estados Unidos ordenou, na noite dessa sexta-feira (4), a restauração completa do programa Daca, que impede a deportação de imigrantes que entraram no país quando ainda eram crianças.

O programa foi criado em 2012 pelo então presidente Barack Obama para proteger cerca de 600 mil desses jovens, conhecidos pelo apelido de "dreamers" (sonhadores).

Essa é mais um golpe às tentativas mal sucedidas de Donald Trump para dar um fim ao programa –em junho, a Suprema Corte dos Estados Unidos emitiu uma decisão para vetar uma ordem do republicano contra o Daca.

O juiz Nicholas Garaufis, do Tribunal do Distrito Leste de Nova York, ordenou que o governo permitisse que imigrantes apresentassem novos pedidos de proteção no programa.

Assim, a ação reverteu um memorando emitido por Chad Wolf, secretário interino de Segurança Interna, que restringia o programa apenas a pessoas que já estavam matriculadas. Com isso, até 300 mil novos candidatos podem ser inscritos na iniciativa.

O memorando de Wolf também limitou os benefícios do programa, diminuindo as licenças de trabalho de dois anos para um, mas o juiz também reverteu essa decisão.

Garaufis, que foi nomeado pelo presidente Bill Clinton (1993-2001), também disse que o governo deve encontrar uma maneira de contatar todos os imigrantes que são elegíveis para o programa e informá-los sobre a mudança.

Assim, por volta de 950 mil pessoas, a maioria jovens adultos nascidos no México e em outros países latino-americanos, poderão permanecer nos Estados Unidos e obter vistos de trabalho temporário por dois anos, que são renováveis por mais tempo.

O programa não abre um caminho automático para a obtenção da cidadania americana, mas permite que esses jovens possam estudar e trabalhar nos Estados Unidos.

Trump

A decisão é um revés jurídico significativo para Trump, que buscou várias maneiras de restringir a entrada de imigrantes ao longo de seu mandato, e explorou o discurso anti-imigração na campanha pela reeleição. No entanto, foi derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden –que era o vice-presidente de Obama quando o programa foi criado.

Biden prometeu restaurar o Daca, mas uma solução legislativa que permitiria aos jovens viver e trabalhar legalmente nos Estados Unidos de maneira permanente ainda parece uma solução distante.
O Daca foi criado por meio de uma ordem presidencial, sem passar pelo Congresso e o Legislativo recusou um projeto de lei sobre o tema.

Durante seu governo, Obama defendeu que esses imigrantes, trazidos de forma ilegal por seus pais quando ainda era crianças, foram criados e educados nos Estados Unidos e geralmente sabem pouco sobre seus países de origem –alguns nem se lembrariam da época em que viveram fora dos EUA.

Ao longo do mandato, Trump deu declarações variadas sobre os "dreamers". Em 2017, disse ter um grande amor por eles, mesmo procurando encerrar o programa que os beneficiava.

Em 2019, afirmou que muitos participantes eram criminosos perigosos, ignorando o fato de que o Daca não beneficia pessoas que tenham cometido algum delito.

O programa estabelece uma série de exigências rígidas para participação: os interessados não podem ter antecedentes criminais, devem ter menos de 30 anos, precisam provar que chegaram aos Estados Unidos antes de completarem 16 anos e que viveram no país pelo menos durante os últimos cinco anos.

Os jovens precisam ainda apresentar ou um diploma do ensino médio ou uma dispensa com honras das Forças Armadas americanas.

A idade média dos participantes é de 26 anos e há uma ligeira maioria de mulheres. Quase metade de quem está no programa vive nos estados da Califórnia ou do Texas."

Apesar da decisão desta sexta-feira, o Daca ainda enfrenta outros desafios, incluindo um caso no tribunal federal do Texas, onde procuradores-gerais republicanos pediram a um juiz que declarasse o programa ilegal.

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