Acidente da Germanwings

"Muitos suicídios são improvisados, imprevisíveis", diz psiquiatra

Muitas pessoas que cometem suicídio apresentaram antes um comportamento perfeitamente normal, diz especialista

Por AFP
Publicado em 27 de março de 2015 | 11:56
 
 
 
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No caso de algumas pessoas, as ideias suicidas são tão fortes que anulam todo o resto e é possível que seu comportamento não permita prever, afirma o psiquiatra francês Bernard Granger, ao comentar a hipótese de suicídio do copiloto do avião da Germanwings, Andreas Lubitz.

Professor de Psiquiatria da Universidade René Descartes de Paris, Bernard Granger é diretor do serviço psiquiátrico do hospital Tarnier (Cochin), da capital francesa.

 

O que poderia levar um piloto a cometer suicídio?

É muito difícil responder porque nunca tive este senhor (o copiloto) na minha frente. Sempre é possível fazer mil conjecturas. Não sabemos se havia tomado substâncias, se sua namorada o havia abandonado na véspera, se tinha antecedentes psiquiátricos ocultos, se teve um impulso, se tinha problemas há algum tempo ou se, ao contrário, aconteceu algo brutal com ele. É impossível apresentar a mínima hipótese na medida em que não se tem nada tangível, exceto que se trancou na cabine e realizou uma manobra para que o avião caísse.

O que se pode dizer de quem comete suicídio e provoca a morte de outras pessoas?

Se fosse um caso simples, ele teria se suicidado de outra forma. Sofria de delírios subjacentes? Em casos de melancolia delirante, pode existir a noção de 'suicídio altruísta'. Acreditam que o mundo é tão assustador que, para salvar os outros deste mundo assustador, também os matam. Mas o caso clássico de 'suicídio altruísta' é o da pessoa que mata a família e depois se mata. Isto não se enquadra muito nesta história.

Às vezes a ideia suicida é tão forte que leva tudo pela frente. Mas existem tantas variantes possíveis nas condutas suicidas. No momento, a única coisa que posso dizer é que não é possível adiantar nada do ponto de vista psicopatológico.

Este tipo de comportamento é previsível? 

Não necessariamente. Muitas pessoas que cometem suicídio apresentaram antes um comportamento perfeitamente normal. Geralmente nada permite prever. Muitos suicídios são improvisados, imprevisíveis. Respondem a impulsos.

Com frequência, uma pessoa deprimida que decidiu pelo suicídio sente uma espécie de alívio antecipado. Então se comporta de forma paradoxal a respeito do que vai acontecer e adota uma atitude aparentemente normal antes de passar ao ato.

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