Problema antigo

Papa cria tribunal para julgar padres e bispos por abuso sexual

Francisco endurece com escândalos que vêm manchando a reputação da Igreja há décadas

Por AFP
Publicado em 10 de junho de 2015 | 09:23
 
 
 
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Cidade do Vaticano, Vaticano. Os bispos que foram responsáveis por proteger padres pedófilos serão julgados por um novo tribunal criado no Vaticano pelo papa Francisco, uma reivindicação de longa data das associações de vítimas.

Os bispos – que são mais de 5.000 no mundo – poderão ser julgados em caso de “abandono do dever profissional” sob o direito canônico, por essa “nova instância judicial vinculada à Congregação para a Doutrina da Fé” (CDF).

A CDF, o ex-Santo Ofício, é responsável por garantir em toda a Igreja o respeito ao direito canônico. O papa ordenou a nomeação de pessoal adicional para as novas funções, indicou o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, que falou após uma reunião do conselho de cardeais (C9), responsável por conduzir as reformas na Igreja.

Francisco prevê um período de cinco anos para avaliar a “eficiência” do novo dispositivo. Essas pessoas “também poderão ser empregadas para os julgamentos criminais em casos de abuso de menores e adultos vulneráveis (deficientes) pelo clero”, indicou o Vaticano.
Associações de ex-vítimas de padres pedófilos exigem há tempos que o fato de um bispo encobrir abusos sexuais contra menores cometidos por padres de sua diocese seja reconhecido como um crime e punido pelo Vaticano.

Escândalo duplo. Em 2011, o papa Bento XVI já havia pedido a todas as conferências episcopais que adotassem dispositivos para parar esses escândalos e colaborar com os poderes judiciais civis.

Mas, enquanto alguns episcopados ocidentais adotaram regimes rigorosos, outros ainda lutam para entrar em linha. Em algumas culturas, na África e na Ásia em particular, esses temas são um grande tabu e as Justiças civis nem sempre são confiáveis.

As queixas contra os bispos serão recebidas em um primeiro momento pelas Congregações para os Bispos, para a Evangelização dos Povos e para as Igrejas Orientais, os três “ministérios” do Vaticano competentes para os bispos. Mas serão obrigadas a transmiti-las à Congregação para a Doutrina da Fé.

Desde janeiro, vários membros da Comissão para a proteção dos menores levantaram suas vozes sobre casos sensíveis envolvendo prelados.

O último caso fez muito barulho por ter envolvido o cardeal australiano George Pell, o todo-poderoso “ministro” da Economia do papa. Este último é acusado por uma ex-vítima de ter se recusado a levar a sério a sua reclamação contra um padre. O cardeal nega as acusações e ameaçou processar o autor, o especialista britânico Peter Saunders, ele próprio ex-vítima.

O outro caso diz respeito à nomeação de um bispo chileno, Juan de La Cruz Barros, por Francisco, quando acredita-se que ele protegeu no passado um velho padre acusado de pedofilia.

Bento XVI e depois Francisco implantaram um dispositivo mais severo, mas as ex-vítimas criticam o fato de os julgamentos permanecerem internos e confidenciais.

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