Pandemia

Planta medicinal, propaganda e ausência de Covid-19 no Turcomenistão

O hermético país da Ásia central afirma estar a salvo da doença provocada pelo novo coronavírus

Por AFP
Publicado em 19 de dezembro de 2020 | 13:43
 
 
 
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O Turcomenistão possui uma arma secreta contra a pandemia de coronavírus: a fumaça de uma planta com supostas virtudes medicinais, elogiada pelo autoritário presidente deste hermético país da Ásia central, que afirma estar salvo da Covid-19.

Além de medir a temperatura e seus alunos, Aina Grayeva, professora em Ashjabad, capital do Turquemenistão, fumiga frequentemente a aula queimando alharma, também chamada "ruda síria", que o excêntrico líder turcomano Gurbanguly Berdimuhamedov tanto aprecia. "Apenas seguimos as instruções dadas" pelo governo, explica esta mulher de 42 anos. A alharma é usada desde tempos imemoriais no Oriente Médio, no norte da África e na Ásia central como remédio milagroso contra diversas doenças e para conjurar a má sorte.

Chamada "yuzerlik" no Turcomenistão, o que significa "remédio para cem doenças", esta planta com um odor particularmente forte aumentou sua popularidade durante a pandemia, fazendo o governo presumir que este país é, junto com a Coreia do Norte, um dos poucos Estados no mundo que se livrou da Covid-19.

Desde março, o presidente turcomano ordenou fumigações com alharma sistematicamente, exaltando sua capacidade para matar bactérias e vírus. Desde então, o preço do ramo se multiplicou por cinco, até cinco manats (1,17 euros; 1,43 dólares).

No entanto, no vizinho Uzbequistão, o renomado médico Bakhrom Almatov alertou nas mídias locais que esta erva não tem "nenhum efeito direto" sobre o vírus, apesar de suas virtudes medicinais.

O presidente turcomano não é o único líder que promove um suposto remédio milagroso, sem base científica, contra a covid-19. Em Madagascar, e em toda a África, são muitos os que recorrem à erva, uma espécie de samambaia verde com falsa aparência de cannabis.

Questionada sobre a alharma, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não quis fazer comentários sobre seus supostos efeitos benéficos, mas destacou que a medicina tradicional "tem uma longa história em inúmeros países e geralmente constitui um recurso importante para a saúde". Para se proteger do coronavírus, as autoridades de saúde recomendam, antes de tudo, o uso da máscara, a distância física e hábitos de higiene como lavar as mãos regularmente.

No Turcomenistão, foi necessária uma visita de uma delegação da OMS em julho para que tais medidas fossem impostas, assim como restrições públicas, mas o país nunca admitiu nenhum caso de coronavírus. Mesmo depois de o embaixador do Reino Unido em Ashjabat anunciar que contraiu a Covid-19 nesta semana. 

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