Protestos

Presidente do Sri Lanka renuncia após fugir para Singapura

Rajapaksa, de 73 anos, havia dado a quarta-feira como prazo máximo para fazer o pedido

Por Agências
Publicado em 14 de julho de 2022 | 18:43
 
 
 
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O presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, renunciou, nesta quinta-feira (14), em Singapura, aonde acabara de chegar, enquanto os manifestantes encerraram a ocupação de edifícios públicos em Colombo, garantindo, contudo, que continuarão pressionando o poder em meio à grave crise, econômica e política.

O anúncio oficial da renúncia - esperado para esta sexta-feira - só acontecerá depois de uma análise de "autenticidade e legalidade" da carta enviada por e-mail para o presidente do Parlamento, disse seu porta-voz, Indunil Yapa.

Rajapaksa, de 73 anos, havia dado a quarta-feira como prazo máximo para fazer o pedido de renúncia. Se o mesmo for aceito, ele se tornará o primeiro presidente do Sri Lanka a renunciar desde a adoção do presidencialismo como sistema de governo, em 1978.

Gotabaya Rajapaksa aterrissou em Singapura a bordo de um avião da companhia saudita Saudia, procedente das Maldivas, para onde havia fugido na véspera.

A cidade-Estado afirmou hoje que Rajapaksa chegou ao país "em visita privada", mas "não solicitou asilo, que tampouco foi-lhe concedido", conforme comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores de Singapura, no qual lembra que o país, "em geral, não aceita pedidos de asilo".

Como presidente, Rajapaksa goza de imunidade e não pode ser preso.

Em Colombo, a capital do Sri Lanka, os manifestantes deixaram diversos edifícios estatais que haviam ocupado há vários dias, depois que o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe ordenou as forças de segurança que restabelecessem a ordem, além de decretar estado de emergência.

'Vamos continuar nossa luta'

"Estamos saindo pacificamente do Palácio Presidencial, da secretaria presidencial e do escritório do primeiro-ministro com efeito imediato, mas vamos continuar nossa luta", disse uma porta-voz dos manifestantes.

Testemunhas relataram que dezenas de ativistas estavam deixando o gabinete do primeiro-ministro, enquanto a polícia e outros membros das forças de segurança entravam no prédio.

Agentes armados faziam rondas em algumas partes da cidade, que está sob toque de recolher, embora algumas pessoas festejavam a renúncia do presidente.

"É uma vitória monumental", comemorou Harinda Fonseka, um das manifestantes. "Mas é só o primeiro passo", completou.

Segundo fontes de Segurança, Rajapaksa, que viajou com sua mulher, Ioma, e com dois guarda-costas, ficará em Singapura por um tempo, antes de ir para os Emirados Árabes Unidos.

País situado no Oceano Índico, ao sul do subcontinente indiano, o Sri Lanka sofre com a escassez de produtos essenciais pela falta de divisas para as importações. Os manifestantes consideram que a crise é consequência da má gestão de Rajapaksa.

Depois de meses de protestos, os manifestantes invadiram a residência oficial do presidente no último sábado (9). Posteriormente, ocuparam o gabinete do primeiro-ministro.

Desde a fuga do presidente, o complexo foi aberto ao público, e milhares de pessoas visitaram o edifício. No local, Gihan Martyn, um comerciante de 49 anos, considerou a atitude do presidente uma "jogada para ganhar tempo".

"É um covarde", disse. "Arruinou nosso país junto com a família Rajapaksa. Por isso não confiamos nele e precisamos de um novo governo", prosseguiu.

A polícia afirmou que um soldado e um oficial foram feridos nos confrontos que ocorreram durante a noite do lado de fora do Parlamento.

O principal hospital de Colombo informou que 85 pessoas foram admitidas com ferimentos na quarta-feira. Além disso, um homem morreu asfixiado, após inalar gás lacrimogênio no escritório do primeiro-ministro.

Nesta quinta-feira, o Exército e a polícia receberam novas ordens para reprimir com firmeza qualquer tipo de violência.

O anúncio não foi suficiente para intimidar Chirath Chathuranga Jayalath, um estudante de 26 anos, que disse não ter medo: "Eles não podem deter estas manifestações matando a gente. Vão atirar nas nossas cabeças, mas estamos fazendo isso com nossos corações".

Hotel de luxo

A mídia local das Maldivas informou que Rajapaksa foi recebido de forma hostil pelos passageiros no aeroporto, ao desembarcar no país, na quarta-feira (13).

Ele foi hostilizado e insultado no aeroporto internacional de Velana, e um grupo organizou uma manifestação para pedir às autoridades das Maldivas que não permitissem sua estada no país.

Os meios de comunicação do arquipélago informaram que ele passou a noite no luxuoso hotel Waldorf Astoria Ithaafushi. 

Essa opulência contrasta com a dura crise vivenciada por seus compatriotas, já que quatro de cada cinco pessoas no país precisam pular alguma refeição por conta da catastrófica situação econômica do país.

O Sri Lanka declarou uma moratória da dívida de US$ 51 bilhões em abril e está em negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI). (AFP)

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