Minientrevista

Silvia Capanema

Professora na Universidade de Paris 13 e vereadora na cidade de Saint-Denis, na França

Por Soraya Belusi
Publicado em 08 de janeiro de 2015 | 04:00
 
 
 
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Já existia um clima de tensão em relação à revista?


Tinha, sim. Eles publicaram em 2006 uma caricatura de Maomé e foram ameaçados por grupos extremistas na época. E, desde então, o governo colocou proteção policial no local. É uma revista que podemos comparar com o “Pasquim”, com caricaturistas muito bons e que, mesmo sob ameaça, resolveu continuar nessa linha de criar charges com temas religiosos e políticos, em todas as suas facetas, não apenas sobre os muçulmanos, mas sobre os cristãos, sobre os políticos da direita e da esquerda francesas. E eram muito atuantes nessa discussão sobre a liberdade de imprensa, sempre com o espírito irônico e crítico.

Paris já sofreu um atentado dessa magnitude?

É o maior atentado em Paris desde a Segunda Guerra Mundial. De uns anos para cá, já percebemos um crescimento do sistema de segurança, um pânico velado, um controle muito maior sobre as pessoas e as bagagens nos aeroportos. Esse acontecimento de hoje é revelador de como as ações de segurança não são suficientes para conter a ação terrorista. Há um clima de vulnerabilidade, e a sensação é a de que esses grupos venham a agir de uma forma cada vez mais terrível.

Você acredita que, devido a esse acontecimento, a França tende a se fechar e a estigmatização contra a comunidade islâmica aumentar?

Infelizmente, acho que sim. Sou vereadora de uma cidade de periferia, a 15 minutos de Paris, e é uma região que reúne 130 nacionalidades, com boa convivência até então. Tenho receio de que essa convivência se torne mais tensa com o tempo. Tenho medo de que algumas comunidades sofram estigmatização, sim. Mas, num mundo em que tudo circula, as pessoas e as informações, isolar-se não é a melhor resposta. 

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