Processo eleitoral

Taleban diz que novo governo do Afeganistão é orquestrado pelos EUA

O porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, rejeitou o pacto de governo de união, dizendo ser uma ação inaceitável orquestrada pelo inimigo; o Taleban tem lutado contra forças estrangeiras lideradas pelo EUA no país

Por DA REDAÇÃO
Publicado em 22 de setembro de 2014 | 11:56
 
 
 
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Militantes do Taleban no Afeganistão refutaram nesta segunda-feira (22) um pacto feito por candidatos presidenciais rivais nas eleições, dizendo que o acordo era uma "armação" orquestrada pelos Estados Unidos.

O ex-ministro das Finanças Ashraf Ghani foi nomeado presidente-eleito no domingo (21), após ter assinado um acordo para compartilhar o poder com seu oponente, o ex-ministro das Relações Exteriores Abdullah Abdullah, encerrando meses de desentendimento sobre o resultado das eleições.

Durante todo o processo eleitoral, os dois candidatos trocaram acusações de fraude no pleito. Abdullah liderou a votação no primeiro turno, mas Ghani acabou, de acordo com resultados preliminares, vencedor no segundo turno, realizado em junho.

Abdullah então alegou fraude nos dados divulgados e ameaçou se retirar do processo eleitoral.

Diante da crise, a ONU (Organização das Nações Unidas) e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, negociaram para que fosse feita uma auditoria dos cerca de 8 milhões de votos computados.

O porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, rejeitou o pacto de governo de união, dizendo ser uma ação inaceitável orquestrada pelo inimigo. O Taleban tem lutado contra forças estrangeiras lideradas pelo EUA no país.

"Instalar Ashraf Ghani e formar um governo de mentira nunca será aceitável para os afegãos", disse Mujahid em um comunicado enviado a jornalistas por e-mail.

"Os norte-americanos têm de entender que nosso solo e nossa terra pertencem a nós, e todas as decisões e acordos são feitos por afegãos, não pelo secretário de Estado dos EUA ou por um embaixador", disse ele.

"Nós rejeitamos esse processo americano e prometemos continuar nossa luta até que libertemos nossa nação da ocupação e até criarmos o caminho para um governo puramente islâmico."

De acordo com o estipulado no pacto, Gani ocupará o cargo de presidente, enquanto o derrotado Abdullah será o chefe do Executivo, um posto criado para acabar com a crise.

Apoio

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou no domingo sua satisfação pelo acordo assinado pelos candidatos.

Ban, em comunicado, destacou que o acordo "abre caminho para um futuro estável e mais próspero para o país", mas alertou que o novo Executivo enfrentará "sérios desafios".

O diplomata coreano defendeu a auditoria "sem precedentes" realizada após as denúncias de fraude eleitoral e destacou que o processo cumpriu com os padrões internacionais e com a lei afegã.

A Casa Branca disse em comunicado que Obama telefonou para Gani e Abdullah para felicitá-los pelo acordo para formar um governo de união nacional e "salvaguardar a primeira transição democrática e pacífica da história do Afeganistão".

Obama agradeceu aos dois por abrirem mão de sua liderança em favor do interesse nacional e reiterou o compromisso dos Estados Unidos com o novo Executivo.

Radicais

O Taleban governou o Afeganistão com uma interpretação extrema da lei islâmica durante cinco anos, até ser deposto em 2001, após a invasão dos EUA.

Quase 13 anos depois, os EUA e o ex-presidente Hamid Karzai separadamente tentaram iniciar conversas de paz com o grupo remanescente, mas houve pouco progresso.

Ghani deve tomar posse como presidente em 29 de setembro, de acordo com um representante do governo.

Um dos primeiros atos de Ghani deve ser assinar um acordo de segurança com os Estados Unidos. Ele já declarou apoio ao pacto que permite a uma pequena força de tropas estrangeiras permanecer no Afeganistão depois de 2014.

Os EUA afirmam que a retirada de suas tropas no Afeganistão será finalizada durante o ano de 2016.

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