Protesto

Taxistas franceses se mobilizam contra 'transporte clandestino'

'Convencionais' perdem passageiros para serviço particular, oferecido por meio de aplicativo; manifestações terminaram com casos de confrontos e veículos incendiados

Por AFP
Publicado em 25 de junho de 2015 | 12:38
 
 
 
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Milhares de taxistas em greve protestaram nesta quinta-feira (25) ao redor de Paris, em seus aeroportos e em outras cidades da França, para denunciar a concorrência selvagem do UberPOP, um serviço de transporte de passageiros em carros particulares.

Operações tartaruga e bloqueios de estações ferroviárias e aeroportos geraram grandes problemas no tráfego. As manifestações terminaram em alguns casos em confrontos e inclusive em incêndios de veículos.

O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, fez um pedido de calma, e solicitou ao prefeito de polícia de Paris a publicação de um decreto que proíba as atividades do UberPOP. Os sindicatos de taxistas consideraram esta medida insuficiente, e insistiram na necessidade de desativar o aplicativo de transporte entre particulares para os celulares.

No Noroeste de Paris, vários taxistas tomaram de assalto e incendiaram os carros de dois motoristas dos chamados veículos de transporte com motorista (VTC), provocando a intervenção da polícia anti-distúrbios e dos bombeiros, em meio ao lançamento de bombas, a um ruído ensurdecedor e a latas de lixo viradas. No aeroporto de Paris-Roissy, os acessos a três terminais estavam bloqueados. A ação dos taxistas também perturbou a circulação em vários bairros de Paris e ao redor da capital.

A polícia antidistúrbios atuou no início da manhã para restabelecer a circulação no Bulevar Periférico, o anel viário de Paris. "O objetivo é ocupar o espaço, porque estamos verdadeiramente fartos", declarou Karim Asnoun, do sindicato CGT. "Somos obrigados a passar por esta fase de radicalização", explicou Abdel Ghalfim do sindicato CFDT.

O acesso à estação ferroviária do Norte também estava bloqueado por dezenas de automóveis, e o ambiente era muito tenso no aeroporto de Paris-Orly, onde muitos taxistas tentavam identificar os motoristas clandestinos, sob os olhares dos policiais mobilizados no local.

Em Toulouse (Sul), 40 táxis bloquearam pela manhã o acesso à estação ferroviária, e uma centena deles interromperam o tráfego nas entradas do aeroporto. Em Marselha (Sul), os taxistas perturbaram a circulação na cidade e na estrada que leva ao aeroporto. Em Bordeaux (Sudoeste), uma centena de taxistas estacionaram seus carros ao redor do Palácio de Justiça, para pedir justiça.

"Os motoristas do UberPOP estão proibidos, mas seguem por aí", disse Stéphane Molla, taxista há 30 anos. "Nós temos todos os inconvenientes, temos que pagar a licença, temos tarifas que são fixas e a proibição de acertar valores fechados", explicou seu colega Fabrice Moreau.

Culpa do governo

Há vários meses, o grupo americano de veículos de transporte com motorista (VTC) Uber enfrenta o Estado francês por seu aplicativo para telefones celulares UberPOP, um serviço que coloca em contato passageiros com condutores não profissionais que transportam os primeiros em seus automóveis pessoais por um preço muito baixo.

O Uber reivindica ter 400.000 usuários do UberPOP na França. Estes motoristas não profissionais, não pagam contribuições sociais ou impostos por sua atividade, não estão assegurados profissionalmente e carecem da formação profissional obrigatória no país para ser motorista.

Os sindicatos de taxistas pediram calma e ressaltaram que era importante não responder às provocações, num momento em que a tensão no setor aumenta e depois que foram registradas recentemente em diferentes cidades do país várias agressões a clientes ou condutores do UberPOP.

Mas em relação aos confrontos que atingiram as manifestações desta quinta-feira negaram que os taxistas tenham tido responsabilidade exclusiva pelos mesmos. "É culpa do governo, que ignora o tema há meses", num momento em que a profissão agoniza, declarou Nordine Dahmane, do sindicato FO.

O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, lembrou na terça-feira que o UberPOP está em "situação de ilegalidade absoluta", e a procuradoria de Paris prometeu "aumentar o nível da resposta penal, em particular em relação aos reincidentes.

O Uber é alvo desde 2014 de uma investigação judicial preliminar por sua atividade de colocar em contato clientes com motoristas não profissionais.

A empresa americana tem sua atividade proibida na Alemanha e é alvo de procedimentos judiciais na Espanha e na Holanda.

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