O amplo acesso das crianças aos smartphones no Brasil expõe os pequenos a riscos muitas vezes subestimados. Uma recente pesquisa da rede internacional EU Kids Online revelou que, no país, 75% das crianças com idades entre 10 e 15 anos acessam a internet por smartphones. Isso representa mais que o dobro do acesso móvel em países como Romênia, Irlanda, Bélgica e Portugal.
Apesar de, muitas vezes, ser a única ferramenta de acesso à internet dessas crianças, o smartphone apresenta desafios maiores a pais e responsáveis. “O adulto brasileiro ainda não tem o domínio completo do uso dos smartphones e, muitas vezes, não consegue controlar o acesso à internet por parte das crianças”, analisa Sobhan Daliry, diretor de produto da PSafe, start-up de softwares de segurança para a web.
Além dos ataques virtuais aos quais estão sujeitos os adultos, como vírus e “phishing” (coleta não autorizada de dados), as crianças ainda sofrem outros perigos, como a exposição a conteúdos impróprios e o risco de se tornarem vítimas de pedofilia. “Nesse caso, os sites de relacionamentos podem ser um risco, pois, além de oferecerem uma série de informações sobre a criança, permitem o contato feito por pedófilos e criminosos, que podem facilmente se passar por outra criança ou um adulto no qual as elas tenderiam a confiar, como um professor”, alerta Mariano Sumrell, diretor de marketing da AVG Brasil, empresa que trabalha com antivírus.
Ficar de olho na telinha do smartphone pode ser um desafio para os pais, já que o celular é muito mais portátil que um computador e tem a tela bem menor. Por isso, a maior recomendação dos especialistas é apostar no diálogo. “Os pais podem não estar por perto o tempo todo, mas eles podem conversar. O mesmo cuidado que eles têm com a vida offline das crianças – saber quem são os amiguinhos, quem é a família, aonde estão indo –, têm que ter com a vida online”, orienta a psicóloga Juliana Cunha, coordenadora do helpline da ONG SaferNet.
É na conversa que a aposentada Elizeth Taylor Cabral Bernardes, 52, se entende com a filha, Sofia Bernardes Cabral, 9. A menina já tem seu próprio smartphone e o usa para brincar com games eletrônicos e para conversar com a família, os amigos da escola, do curso de inglês e do nado sincronizado. “Se algum estranho chegar para conversar com ela pelas redes sociais, eu sempre a oriento a não responder. Falo para me chamar, para eu ver quem é a pessoa e o que está querendo. Sofia me obedece, e eu confio nela”, conta a mãe. Isso não exclui que, vez ou outra, Elizeth dê uma olhadinha nos perfis da filha no Facebook e no WhatsApp. “Tenho a senha dela e, de vez em quando, entro para ver o que está fazendo”, diz.
Avaliar reação dos pequenos com contatos ajuda a "medir" a maturidade
De acordo com a psicóloga Juliana Cunha, da ONG SaferNet, não há uma idade mínima para que a criança comece a acessar a internet do smartphone, mas é importante que os pais avaliem a maturidade dos filhos.
“Eles devem analisar se os filhos sabem identificar certos riscos. Por exemplo, se a criança recebe uma mensagem de quem não conhece, o que ela faz? Responde? Bloqueia? Esses pequenos cuidados na navegação mostram se a criança tem ou não essa maturidade”, explica. Já no caso das crianças menores, o jeito é mesmo estar mais próximo na hora do acesso à internet.
É o que faz a advogada Bárbara Myssior, 36, mãe de Rafael, 2 anos e 7 meses, e de Felipe, 7 meses. O mais velho já sabe muito de tecnologia, e a mãe precisa ficar ligada para evitar contratempos. “Tem que ter muito cuidado, porque tem muita coisa bizarra disfarçada de conteúdo infantil”, alerta. Alguns meses atrás, em um momento de deslize de Bárbara, Rafael conseguiu assistir ao filme “Homem de Ferro 2”. “Ele teve pesadelo três dias depois disso. Mas ainda bem que foi o ‘Homem de Ferro’. Imagina se tivesse sido algo mais pesado, como ‘O Poderoso Chefão’?”, considera a mãe.
Mesmo com os perigos, na mão da criançada, a internet pode ser uma ferramenta poderosa a serviço da informação. Segundo Bárbara, Rafael aprendeu a contar até 50, nomes de animais, cores e formas, tudo em inglês e por vídeos no YouTube.
Pesquisa comprova que radiação de baixa intensidade dos celulares pode causar envelhecimento e morte das células
Desde que começamos a usar smartphones até dentro dos banheiros, a preocupação com os efeitos da radiação que os aparelhos emitem só vem crescendo. Mas a ciência ainda não foi capaz de identificar quão mal fazem as ondas emitidas pelos nossos modernos – e amados – celulares.
Uma nova pesquisa, encabeçada por cientistas da Ucrânia e dos Estados Unidos, em parceria com estudiosos da Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo, está um passo mais próxima de esclarecer essas dúvidas.
Em uma revisão de cem artigos científicos sobre o tema, eles afirmam que, de fato, as radiações não ionizantes (que não têm força suficiente para quebrar moléculas, como as do DNA) produzidas pelos smartphones têm certos efeitos sobre as nossas células.
Dos artigos analisados, 93 concluíram que essa radiação de baixa intensidade causa estresse oxidativo em nossas células, o que pode levar ao envelhecimento e à morte celular. Além disso, outras pesquisas analisadas mostraram também a relação entre uma longa exposição à radiação e outros problemas, como dores de cabeça, cansaço, depressão e distúrbios hormonais, entre outros.