O edifício abriga uma espécie de casta, formada pelos moradores mais antigos, e que, aos olhos dos mais recentes, parece se constituir em torno do síndico, Gilberto, que ocupa o posto há anos sem que ninguém questione sua perenidade na função ou pleiteie sua substituição. É com a anuência dos velhos condôminos, alguns residentes desde a fundação do edifício, no final dos anos 60, que Gilberto segue como síndico há tanto tempo. Justificam sua permanência dizendo tratar-se de um senhor sério, cioso de seus deveres, aplicado nas tarefas que a manutenção do prédio demanda e atento às necessidades dos moradores. E, basicamente, o que os membros dessa casta dos antigos dizem é tudo o que se sabe de Gilberto.
Quem porventura tenha se mudado para aquela robusta e cinzenta construção no alto da Serra há menos de 20 anos simplesmente não conhece o síndico. Dizer que é um homem recluso soa como um eufemismo, dado o grau de isolamento em que vive. Todas as questões do condomínio, os serviços que são contratados, o trato com a empresa de assistência predial, as reivindicações e pedidos dos moradores, as questões judiciais do condomínio e tudo mais está nas mãos de Irina, representante de Gilberto há tantos anos quanto ele é síndico. Com sua feição dura, cabelo grisalho amarrado em coque, certa rispidez nos gestos e na voz, sempre vertendo um xale sobre os ombros, mesmo nos dias de calor, ela, sim, é conhecida e respeitada por todos. Entre os moradores mais recentes do edifício, já houve até quem especulasse que o tal Gilberto não existe e que Irina seria, de fato, a síndica.
A casta dos velhos moradores conversa muito entre si, mas é abertamente refratária aos condôminos que estão há menos tempo no edifício e desdenha acintosamente de suas desconfianças, dúvidas e questionamentos. Quando perguntam, por exemplo, sobre a relação de Irina com Gilberto, respondem apenas que “ela é quem cuida das coisas dele”, sem dar maiores detalhes ou explicações. Ante qualquer sugestão de eleições para um novo síndico, rejeitam em bloco a proposta e, na condição de moradores mais antigos, são respeitados. De Gilberto, sabe-se também que divide um apartamento com Irina no 13º andar, que praticamente não sai de lá e, quando o faz, sempre consegue a proeza de não ser visto por ninguém.
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