Um marco positivo para a literatura brasileira em 2015 é a merecida lembrança com maior fôlego do escritor e pesquisador Mário de Andrade (1893-1945), pela passagem dos 70 anos de sua morte, em fevereiro. Embora no mundo acadêmico ele seja uma referência permanente quando se trata de cultura brasileira, andava pouco falado fora desse universo. Com a efeméride vieram muitas reportagens, reestudos, reedições, a reverência como autor homenageado da Flip recém-encerrada e várias coisas mais, além de outras que ainda deverão ocorrer até o fim do ano.
Nesse reencontro, recomendo, para quem não leu, a carta que está disponível no site do Instituto Moreira Salles (www.ims.com.br), escrita por ele, em resposta ao historiador mineiro Francisco Iglésias (1923-1999).
No texto de apresentação que faz para a correspondência de quatro páginas manuscritas, Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS, observa que, naquele dia 2 de janeiro de 1945, Mário escrevia a primeira carta do ano que seria o último de sua vida. O escritor havia visitado Belo Horizonte meses antes, e Iglésias estava na juventude de seus 22 anos.
Mário reitera logo sua vocação epistolar: “Ah, se eu conseguisse escrever artigos com a facilidade e a isenção de espírito com que escrevo cartas”, registra ele na escrita com as letras sempre tombadas para a direita.
Os temas tratados são diversos. O remetente comenta os trabalhos que vem realizando e os futuros. “Tenho que escrever o primeiro volume de minhas obras completas, incluindo um ensaio sobre meu processo de criação. Como a criação se processa em mim. Não dou muita importância a... mim, acredite. Minha obra é toda muito utilitária(...). Minha poesia é livre e sincera”.
Fala também de religião (“O que mais transportei das religiões para dentro da minha vida pessoal são os ritos”), de seu estilo metódico (“Horas certas para fazer cada coisa, até para me divertir”) e comenta questionamento da carta de Iglésias, sobre a questão do homem e do artista. “Só existe uma coisa, Iglésias, e você tem razão: é o homem, simplesmente. Ninguém é em dois homens, o artista e o homem. Tudo é um só, e o artista, o cientista não é senão uma qualificação profissional do homem. E uma qualificação jamais desclassificou o homem”. Está dito.
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