O casal de meia-idade hesita, acuado em meio à verdadeira barricada de cavaletes de candidatos para as eleições de domingo próximo. Marileia e Osvaldo atravessam a rua e, ao chegarem ao passeio central para depois buscarem o outro lado da avenida, quase não conseguem espaço. Precisam empurrar um pouco com as pernas alguns cavaletes para pisar sobre o passeio e evitar os carros que já se aproximam depois que o semáforo esverdeou. Entrincheirados, vão enfiando os pés em pequenas partes de chão que encontram disponíveis. E entre um passo e outro é inevitável se deparar com aqueles rostos nos cartazes eleitorais, famintos por votos, o sorriso falso característico. São tantos deles que olhar na linha de visão causa um princípio de vertigem. Melhor se concentrar na ginástica necessária para mover-se até o outro lado.
Osvaldo se recorda do que pensara na noite anterior sobre as eleições que, enfim, estão à porta, chegam com um misto de alívio e frustração. Como sempre acontece, lembra ele, a partir da próxima semana as campanhas vão continuar em segundo turno apenas para a Presidência da República e para governadores nos Estados em que a definição não sairá em primeiro turno. Daí o alívio, pois já não teremos os candidatos a deputado e ao Senado. Menos cavaletes!
A frustração vem da falta de boas novidades no chamado cenário político. Entra eleição, e termina eleição, e volta eleição de dois em dois anos, e de modo geral as campanhas são iguais às que vimos antes, e antes, e antes. Como sempre, os candidatos fazem basicamente promessas por melhorias na saúde, educação, segurança; às vezes pelo controle da inflação ou uma ou outra promessa mais usada. E se se repetem é porque eles próprios, os que têm ou já tiveram mandato(s), não conseguiram melhorias na saúde, educação, segurança.
As eleições de domingo que vem não apontam, infelizmente, um futuro verdadeiramente promissor para o país. O calor da campanha nestes dias, com a proximidade da votação, está mais na disputa entre os defensores deste ou daquele candidato, na aposta se seu escolhido, ou para o qual está trabalhando, vai ganhar nas urnas. Que o preferido pela maioria do eleitor brasileiro seja, espera-se, o menos pior para administrar os nossos problemas.
O visível, reflete Osvaldo, é que não houve novas e exequíveis propostas que pensem a totalidade das nossas mazelas e como enfrentá-las de maneiras diferentes e viáveis. Votar é necessário e faz parte do processo democrático, ainda que a escolha seja pelo menos pior. Apontar as fragilidades de nossa classe política também faz parte desse processo. Quem sabe em algum momento ela não faça uma mea-culpa e em futuras campanhas possamos ouvir boas e concretas propostas, que fujam dos jargões.
O casal de meia-idade chega, enfim, à ponta do passeio central e aguarda o momento certo para atravessar até o outro lado. Mas precisa, antes, examinar também adiante, para ver onde terão espaço entre os cavaletes a fim de subir com segurança no outro passeio.
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