Ligou de Alfenas, onde estudava. Eufórico.
– Mãe! Tenho duas notícias ótimas!
– Uai, deve ser mesmo! Pra você me ligar assim... de repente... O que é, meu filho? Fala para sua mãe!
– Bom, a primeira é que eu vou me casar...
– Ahn?
– E a segunda, bem... a segunda é que você vai ser avó.
– ...
– Mãe??? Você está me ouvindo?
– Filho, eu... eu... – e tentando pôr ordem nos pensamentos, completa baixinho: – ... tô te ouvindo.
– E aí?
– Aí o quê?
– Não vai me dizer nada? Eu e Carlinha estamos tão felizes, cheios de planos, e você nem para nos dar os parabéns...
– Não, é que... bem... é que... filho! Eu nem sequer conheço a Carlinha! E, sinceramente, 18 anos não é idade para...
– Ué! A vovó não se casou com 17? Pois é, a Carlinha tem 16!
– O quê? Você quer dizer que a garota com quem pretende se casar tem 16 anos???
– Mãe! Ela é a nora que você pediu a Deus! No fim de semana estaremos aí, tenho certeza de que vai adorá-la. Agora vou ter que desligar, que a bateria está acabando.
– Ei, filho! Não des...
E no fim de semana...
– Mãe, Carlinha! Carlinha, mamãe!
– Olá!
– Oi.
– ...
– Bom, sabia que vocês iam se dar bem. Mãe, enquanto eu coloco as coisas no quarto, vão conversando aí... Aproveita e prepara um lanche, que estamos morrendo de fome...
– Dona Judite?
– Sim.
– Eu e o Pedrinho estamos apaixonados.
– Nessa idade, minha filha, não tem como não estar, né?
– Por isso, resolvemos nos casar. Já conversamos com meus pais, e eles concordaram, acharam que seria melhor. Agora viemos conversar com a senhora.
– Sei.
– E então?
– Ô minha filha, tudo bem, vocês estão apaixonados, mas, venhamos e convenhamos, você não acha que são jovens demais para uma decisão dessas? Casamento é coisa séria, requer maturidade, condição financeira... E vão viver de quê? De amor?
– Por enquanto acho que sim... Mas o Pedrinho está se virando. Lá na faculdade, de vez em quando, pintam uns bicos, uns computadores para consertar, uns...
– E vão morar onde? Se sustentar como, criatura de Deus?!
– Ai, mãe – interrompe o menino –, você está assustando a Carlinha! Já está tudo resolvido. Talvez eu tranque a matrícula na faculdade e volte pra cá, sei lá, aqui deve ser mais fácil arrumar emprego. Ou então ficamos por lá mesmo, na casa do seu Artur.
– Quem é seu Artur?
– É o meu pai – explica a menina –, ele disse que, se quisermos, podemos ficar lá um tempo até as coisas se ajeitarem. O problema é que não gosto muito da mulher dele, a garota é um saco!
– Garota?
– É, se amarrou no coroa e agora fica dando uma de dona da casa, sabe como?
– E sua mãe, o que ela acha disso?
– Minha mãe? Ela, no começo, quis matar a menina, imagina que outro dia...
– Filha, não é sobre isso que estou querendo saber. Eu perguntei sobre vocês, o que sua mãe acha de você, com 16 anos, se casar com o meu filho, de 18?
– Bom, ela ficou preocupadíssima.
– Sim, e o que ela disse?
– Disse que ser avó com 42 anos seria o fim da picada.
– Quer dizer então que... você realmente espera um bebê?
– Lua.
– Como?
– Se for menina, vai se chamar Lua, e se for menino, Sol. Bonito, né? Eu que escolhi.
Três meses depois...
– Mãe! Vamos chegar daqui a dois dias. E o quarto do bebê, já pintou? Olha que a Carlinha não pode com cheiro de tinta, só de ouvir falar, ela vomita. Aliás, ela só vomita. Mas é assim mesmo, minha sogra vomitou os nove meses... E a mudança, já chegou? Meu sogro nos deu uma TV e um bercinho lindo, você vai adorar!
Um ano depois.
– Dona Judite, tô saindo pra aula. Qualquer coisa, me liga, tá? Deixei o leite na mamadeira...
E a avó, com cara de encantada, nina a pequena Lua, enquanto diz a todos que a neta é o seu sol.
Enfim, dona Judite estava no céu.
Ou seria na Lua?
- Portal O Tempo
- Opinião
- Laura Medioli
- Artigo
No mundo da Lua
Casamento é coisa séria, requer maturidade, condição financeira...
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