Na década de 1920, o então presidente Washington Luís cunhou uma frase que marcaria o século no Brasil: “Governar é abrir estradas”. Esse lema, que chamava a atenção para o problema logístico que o país enfrenta em toda a sua história, ajudou a definir a forma como nossa população até hoje avalia governos: pela realização de grandes obras, com destaque para a qualidade de ruas e rodovias. São vários os argumentos para se questionar essa lógica: por exemplo, em um país no qual cerca de um terço da população é analfabeta total ou funcional, a educação é que talvez merecesse o posto de maior prioridade.
Quando se trata de Minas Gerais, entretanto, é preciso ter cautela nessa crítica: a integração entre as diferentes regiões mineiras vem sendo, em toda a nossa história, um elemento essencial para a produção de riqueza e bem-estar para a população das Alterosas. É quase consenso entre estudiosos e planejadores do desenvolvimento em Minas Gerais que a chave para nosso crescimento reside na conexão entre o potencial das diferentes regiões mineiras: enquanto permanecem dispersas, essas têm apenas papel marginal na economia dos Estados vizinhos.
A construção de Belo Horizonte, há 120 anos, partiu desse pressuposto, segundo análise que Otávio Dulci fez dos debates realizados na cúpula empresarial e governamental mineira do século XIX. A nova capital foi pensada para servir como campo neutro em relação às rivalidades regionais e, principalmente, ponto de convergência da economia estadual.
Em pouco mais de um século, é possível dizer que essa estratégia deu certo: a região metropolitana de Belo Horizonte segue como uma das principais áreas industriais do Brasil, dando coesão e força à economia mineira como um todo. Entretanto, o presente quadro está longe de ser suficiente: não é razoável pensar a integração da economia mineira apenas a partir de sua centralização em um ponto só, e, hoje, as conexões entre as distintas regiões mineiras são extremamente precárias.
No plano das ideias, é importante que o próximo governador de Minas Gerais amplie a noção de integração da economia estadual, incluindo ligações que não necessariamente passem pela capital. Por exemplo, a ligação de Triângulo e Alto Paranaíba com o Noroeste e Norte está muito aquém da necessidade de integração dessas regiões mineiras: o capital, a tecnologia e a experiência do Triângulo e do Alto Paranaíba em questões agropecuárias guardam complementação natural com as possibilidades proporcionadas pela fronteira agrícola que se expande no Norte e no Noroeste mineiros.
Um obstáculo formidável ao próximo governador reside no fato de que a maior parte da malha rodoviária existente em Minas está sob gestão do governo federal. Isso produz aberrações como a BR–262, responsável por ligar as duas maiores cidades mineiras: uma rodovia de pista simples na maior parte de seu percurso, congestionada e com cobrança de pedágio, impedindo que as economias de Belo Horizonte e Uberlândia se aproximem e se estimulem mutuamente com dinamismo.
Portanto, antes do desafio logístico – que deve ter as rodovias apenas como ponto de partida –, o próximo governador mineiro terá um desafio político pela frente: conquistar o apoio do governo federal ou, no mínimo, a liberdade e os recursos necessários para agir autonomamente. Uma luta árdua, sem dúvida, mas que pode elevar os padrões de renda, emprego e arrecadação de Minas a um novo patamar.