Arrisco dizer, caro leitor, que o título deste artigo o deixou incomodado. Mas essa é mesmo a intenção. Chegada esta época, é o momento de fazermos um balanço do que foi o nosso ano, na vida pessoal, social e, principalmente, profissional. No fim das contas, qual foi o saldo? O que levar de resultados para o próximo ano? Neste momento, qual frase vai lhe soar melhor? É o modo interrogativo, “eu fiz por merecer?”, como quem não está seguro do que fez; ou o modo exclamativo, “eu fiz por merecer!”, em forma de aprovação, como quem se sente realizado com o que fez no trabalho e na vida particular?

É como diz o sábio ditado: a vida é uma lavoura, você colhe o que planta. Você pode até plantar e não colher, mas colher sem plantar é muito improvável, ou muito questionável. O que você fez ou tem feito para ser merecedor da posição em que está ou em que almeja estar? Você levanta cedo todos os dias, é o primeiro a chegar ao trabalho, faz tudo o que lhe é pedido, mas nunca é promovido ou não tem o salário que gostaria. Você é amigo de todos no trabalho, está sempre à disposição, mas isso parece não ter nenhuma importância. Afinal, o que é preciso para merecer?

Como executivo de várias empresas, onde liderei grandes equipes, e como empresário, preparei e promovi inúmeros colaboradores, muitos deles a cargos estratégicos. Posso dizer que o “fazer por merecer”, na maior parte das vezes, esbarra na falta de atitude e de compromisso com as entregas. A verdade é que todos nós podemos fazer um pouco mais. Sempre! Mas vamos à próxima justificativa do merecimento: você fez pós-graduação, é o mais estudado da empresa, e a oportunidade não vem. Mas eu pergunto: e a atitude? É preciso estudar, sim, sempre. Mas não basta ter uma pilha de certificados se, na hora de tomar uma decisão importante, você não se apresenta para comandar a linha de frente, quando as circunstâncias demandam esse profissional com atitude.

Você faz por merecer ou entrega o que foi contratado? Faz para ser o melhor ou o suficiente para sair com o sentimento de poder dizer: “Fiz tudo o que me pediram, portanto entreguei em 100%”? Ok, mas não seria o caso de entregar um pouco mais, num momento em que a demanda era por fazer mais e melhor? Não seria a oportunidade de aliar teoria e prática e aplicar todo o aprendizado, toda a bagagem de conhecimento, num momento em que aquela oportunidade caiu aos seus braços disfarçada de desafio?

Nesse sentido, corroborando o que eu disse até aqui, cito uma provocação do grande filósofo Mário Sérgio Cortella, em que ele pergunta: “Na tua atividade dentro da empresa, você está fazendo o melhor ou o possível? Não é o melhor do mundo, é o teu melhor”. Em seguida, ele justifica a pergunta: “Cautela! Se você estiver só se acomodando dentro do possível, resvala-se com velocidade para a mediocridade”.

Essa análise me faz recordar, por exemplo, um episódio nas Olimpíadas de Paris, neste ano: quando a maior ginasta olímpica do mundo, a americana Simone Biles, foi mal, sofrendo uma queda na trave durante a prova final. O caminho estava aberto para a brasileira Rebeca Andrade conquistar o ponto mais alto do pódio. Mas será que ela fez o seu melhor? Infelizmente não. Com toda a sua capacidade técnica, toda a sua competência, ela desperdiçou a grande chance por não se arriscar um pouco mais, optando por fazer uma prova “segura”. É isso que acontece na nossa vida, seja no âmbito pessoal, seja no profissional; na hora certa, que depende só de nós mesmo, às vezes deixamos a desejar.

Para ilustrar bem isso, recorro a uma famosa frase de outro multicampeão, o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo, que diz: “O medo de perder tira a vontade de ganhar”. Foi o que aconteceu com a nossa simpática Rebeca Andrade. No intuito de conduzir com a máxima segurança para não errar, acabou não se arriscando um pouco mais para vencer.

Em minha palestra “Gol de Placa: Sorte ou Competência”, apresento os diferenciais das pessoas vencedoras no momento de uma grande decisão, como bater um pênalti em uma final de campeonato. É quando pergunto à plateia: se fosse você nessa situação, bateria o pênalti ou iria amarelar? E esse é o momento de reflexão. É uma decisão que, com um pouco mais de ousadia e risco, muda de patamar a sua vida. Mas a escolha pode ser também não se arriscar, ficar seguro na sua posição, mesmo que ela seja de mediocridade, asfixiando todo o seu talento e potencial. O preço pode ser o eterno e angustiante sentimento de que poderia ter se arriscado um pouco mais, mesmo em condições desfavoráveis. É fundamental ter a ousadia responsável.

Portanto, retomando ao Cortella: “Faça o seu melhor nas condições que você tem, enquanto não tem condições melhores para fazer melhor ainda”.

E, afinal, você fez por merecer?

Antônio Claret Nametala* é psicólogo especialista em marketing
e em recursos humanos

(*) Presidente executivo da Associação Mineira de Supermercados (Amis); e diretor-presidente do Grupo Nonna Field Marketing