(*)Luciana Aquino Capello Coelho é jornalista profissional é escritora e membro da Associação das Jornalistas e Escritoras do Brasil (Ajeb) - Coordenadoria Minas Gerais
O bullying, palavra de origem inglesa, que vem de "bully", que significa valentão ou tirano, continua ecoando nos corredores escolares e nos espaços virtuais, transcendendo a mera provocação. Trata-se de um fenômeno complexo, colérico, marcado por agressões intencionais e repetitivas, que visam humilhar e subjugar a vítima. Mas até quando vamos ficar assistindo histórias e histórias sendo contadas como tamanha banalidade?
Muitos estados brasileiros e escolas adotaram, recentemente, campanhas como o Março Laranja contra o bullying escolar. Mas só esse tipo de campanha não basta! Como escritora, venho acompanhando de perto o tema e até escrevi um conto fantástico, intitulado “ A Lenda da Menina Má” para debater com nossas crianças e adolescentes através da leitura nas escolas, o poder das palavras e do julgamento. E quantas “criaturas más” são criadas pelo mundo? E como o bullying vem sendo debatido na construção das relações?
Pensadores como Hannah Arendt, em sua obra "A Condição Humana", alertam para a banalidade do mal, mostrando como a violência pode se manifestar em atos aparentemente banais, mas que carregam consigo um potencial destrutivo imenso. Zygmunt Bauman, em "Modernidade Líquida", discute também com maestria a fragilidade dos laços sociais na contemporaneidade, o que pode contribuir para a proliferação do bullying, um reflexo da
dificuldade em lidar com a diferença e a vulnerabilidade do outro.
Outros grandes escritores e pensadores mundo afora como William Golding, em "O Senhor das Moscas", exploram a natureza humana e a facilidade com que a violência pode emergir em
grupos sociais, a perda da inocência, especialmente entre os jovens. Além da “A Lenda da Menina Má” existe um mundo real que nos julga e nos engole através das palavras! E a palavra
pode ser uma vilã quando usada como arma. Somos escritores que trazemos nas nossas histórias nas entrelinhas e através da Literatura às lições, reflexões filosóficas e educacionais sobre a exclusão e a violência. E precisamos tratar desse assunto com muita seriedade!
A série britânica Adolescência em cartaz em um grande plataforma de Streaming está sendo muito comentada e assistida. Mas por que ? Ela retrata uma realidade cruel de nossas crianças e adolescentes. No caso, um grupo de jovens navegando pelas complexidades do ensino médio, onde dinâmicas de poder, aceitação e exclusão são constantes. A busca por popularidade e pertencimento leva alguns personagens a se tornarem agressores, enquanto outros lutam para se defender e encontrar seu lugar. Uma boa reflexão sobre como o bullying afeta a autoestima, a saúde mental e a capacidade de formar relacionamentos saudáveis, destacando a importância da empatia, do respeito às diferenças e da intervenção de pais e educadores para promover um ambiente escolar mais acolhedor.
No Brasil, a Lei nº 13.185/2015 instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, visando prevenir e combater o bullying em todas as suas formas. Mas a recente Lei nº 14.811/2024 é a que tipifica o bullying e o cyberbullying como crimes, com penas que variam de multa a prisão. Essa lei altera o código penal e a lei de crimes hediondos, o que torna o combate ao bullying mais efetivo.É fundamental que a sociedade como um todo se mobilize
para combater o bullying. E todos precisam saber disso! Escolas, famílias e comunidades devem trabalhar em conjunto para criar ambientes seguros e acolhedores, onde a diversidade seja valorizada e o respeito mútuo seja a base das relações. A educação, a conscientização e a aplicação da lei são ferramentas essenciais para construir um futuro livre do pesadelo
silencioso do bullying. Precisamos tratar nossos contextos e convivências.
Como escreveu o filósofo suíço-britânico, Alain de Botton, a importância da inteligência emocional e da empatia são fundamentais como exploração e construção de relações
saudáveis, o que pode ser fundamental para combater o bullying.
Essa agressão contínua, marca profundamente o futuro infantil, gerando traumas emocionais e sociais duradouros. A falta de intervenção expõe crianças a transtornos psicológicos graves, impactando sua inserção social e potencial humano. A união de escolas, famílias e sociedade é crucial para erradicar o
bullying, garantindo um futuro seguro e empático, onde cada criança alcance seu pleno desenvolvimento. Agir agora é responsabilidade coletiva para evitar um futuro de feridas
invisíveis e perdas irreparáveis.