ACÍLIO LARA RESENDE

A ansiedade e o medo dominam a reta final da campanha política

Nosso país está em perigo: não provoquemos seus habitantes


Publicado em 27 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Inicio estas linhas com meu coração pulsando mais rápido do que o normal. Os problemas se acumulam – na família, entre amigos e no país. Nem a beleza do dia, coberta pelo céu azul-profundo, consegue acalmar o animal raivoso que também habita dentro de mim. Enfrento o papel em branco, mas não sei ao certo o que quero dizer ou transmitir, para mim ou para você, leitor, a quem dirijo este desabafo.

Quisera, por exemplo, poder iniciar estas linhas sem me preocupar com informações, pesquisas, análises, notícias falsas, redes sociais, entrevistas, colunas, programas políticos (na televisão e no rádio) etc., mas, sobretudo, com os medos que, neste instante, insistem em dominar meu corpo inteiro, contendo, enfim, meu já contido verbo.

Quisera, quem sabe, retirar de minhas costas esse peso para o qual também contribuí. Sei que essas tarefas são quase impossíveis. Tento, então, driblar o sentimento (ou ressentimento?) de decepção que, em cada eleição, também toma conta de mim. Entro em todas elas cheio de esperanças, mas a realidade logo me deixa atônito. E o ânimo, para recuperá-la, além de dobrado, é escasso. Mas não dou o braço a torcer, ainda que seja eu o último a crer em meu sofrido país.

É provável que esteja dizendo bobagem, mas as eleições deste ano são parecidas com muitas outras, especialmente com a de 1989. Aliás, essa aparente bobagem já foi dita por gente graúda. E você sabe no que deram aquelas eleições, polarizadas pela insensatez. Salvou-as, após, um mineiro que, na Presidência, soube ser conciliador.

O que hoje estranha e causa medo não é, em si, a polarização que se avizinha cada vez mais. A democracia leva sempre à polarização. Refiro-me àquela polarização insensata, quase diabólica, movida a ódio. Ela poderá nos levar a escolher entre um preso (ou nosso Poder Judiciário não vale nada?) e um esfaqueado. Um quer eleger mais um “poste”, um representante seu, não seu candidato. Por meio dele, quer manter-se vivo e ativo, como se fosse apenas uma “ideia”. O outro é um político que, ao longo de 28 anos, na Câmara dos Deputados, verbalizou barbaridades. Qual, então, merecerá nosso voto, leitor? Tenho medo de que a vitória de qualquer deles só nos traga mais desgosto.

Nesta reta final, nossa política está tão vazia de propostas com um mínimo de princípio, meio e fim que muitas famílias proibiram, terminantemente, nas reuniões que habitualmente realizam, qualquer conversa sobre política. Esse intragável assunto está suspenso pelo menos até o próximo dia 7, se não chegarem à conclusão de que essa proibição deva continuar até o segundo turno.

Finalmente, na realidade, e para nos deixar ainda mais ansiosos, nada está decidido, segundo o cientista político Lúcio Rennó (UnB): “A eleição está aberta e será definida pelo grau de abstenção e pelo que acontecer na reta final. Em 2014”, lembra Rennó, “duas semanas antes, poucos imaginavam que Marina não estaria no segundo turno”.

Que Deus fortaleça nossa sociedade civil e a ajude a afastar – de um lado e de outro – o perigo de golpe que paira no ar contra ela. Que nenhum deles, sobretudo o do PT, faça com que se cumpra a profecia de Luiz Felipe Pondé: “Se Lula ganhar as eleições, o Brasil terá um retrocesso ao Paleolítico, sem querer ofender nossos ancestrais”.

Nosso país está em perigo! Não provoquemos seus 206 milhões de habitantes. O inferno poderá estar aqui, perto de nós.

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