Acílio Lara Resende

A estupidez humana na política pode levar à morte

A hora é a de pacificar o país e de termos eleições limpas

Por Acílio Lara Resende
Publicado em 14 de julho de 2022 | 03:00
 
 
 
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O título destas linhas não encerra nenhuma novidade. A política, em momentos de acirramento e de extrema estupidez como o que vivemos hoje, em nosso país e no mundo, pode provocar a morte.

O que tem acontecido, sobretudo em nosso país hoje, me fazer lembrar o jornalista, romancista, teatrólogo e cronista Nelson Rodrigues, nascido no Recife (23.8.1912 a 21.12.1980), que soube retratar o ser humano como ninguém. Para ele, o “ser humano é cego para os próprios defeitos”. “Nós estamos” – completou o escritor – “piorando cada vez mais, e eu considero o ser humano um caso perdido”.

O assassinato de um petista por um apoiador fanático do presidente Jair Bolsonaro, ocorrido em Foz do Iguaçu, na noite do último sábado, além de confirmar o que disse Nelson Rodrigues, é só uma amostra, leitor, do que ainda poderá acontecer no período eleitoral. 
O que ocorreu é, sim, extremamente amedrontador. Mas essa violência como forma de fazer política, com as eleições batendo em nossa porta, não se iniciou agora.

Vem sendo motivada pelo próprio presidente Bolsonaro, candidato à reeleição, quer pelo seu conhecido estilo de fazer política, quer pelas suas ideias. Ao longo desses mais de três anos de governo, tem feito ameaças às instituições democráticas, acirrando os ânimos tanto dos que se dizem “direitistas” quanto dos que se dizem “esquerdistas”. Na realidade, ele quer confusão, estimula a violência e se prepara para uma guerra. Não é nenhum exagero, portanto, dizer que ele é um dos culpados – o maior deles – pela radicalização política, que dispõe de um poder ilimitado. 

A hora é a de pacificar o país e de termos eleições limpas e pacíficas. Só que o presidente não enxerga isso. Ao contrário, sempre que pode, de maneira irresponsável, afirma que é preciso armar a população, que precisa aprender a se defender... Ao invés de fortalecer nossas instituições democráticas, quer vê-las jogadas no lixo, abrindo-se o caminho para uma ditadura de direita – o modelo dos seus sonhos.

O tratamento que o presidente deu ao assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, em Foz de Iguaçu, no Paraná, na noite do último sábado, pelo seu simpatizante Jorge Guaranho, é o mesmo que deu às milhares de vítimas da pandemia e às mortes do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Phillips – ou seja, nenhum.

Para finalizar este desabafo, leitor, é mais triste ainda a declaração do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, sobre o trágico episódio em Foz do Iguaçu. Depois de se referir à exploração política, que, obviamente, atribui à imprensa, deixou-nos este lamento: “Evento lamentável. Ocorre todo final de semana em todas as cidades do Brasil, de gente que provavelmente bebe e aí extravasa as coisas”. 

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