Acílio Lara Resende

A terceira via precisa ser encarada com espírito público

Fragmentação e falta de entendimento podem ser obstáculos


Publicado em 11 de novembro de 2021 | 03:00
 
 
 
normal

Meu barbeiro gosta de conversar sobre política. Tem sempre notícias frescas. Normalmente, acerta no que diz. Ele é amplamente favorável a uma candidatura de terceira via. Segundo ele, ela afastaria do cenário político brasileiro tanto Lula quanto Bolsonaro, que são os seus dois temores. Respondi-lhe que, de minha parte, em relação à descoberta de um candidato que possa representar a terceira via, fico entre a tristeza e a esperança. Tristeza quando constato como se faz política irresponsavelmente neste país. Esperança porque ainda não consegui matar esse insistente germe que nasceu comigo.

Nosso país, mesmo olhado de relance, apesar do que se assiste diariamente, tanto no Congresso quanto no Executivo (deixo o Judiciário, especificamente o Supremo Tribunal Federal, para os especialistas), tem tudo para dar certo. Meu barbeiro, que hoje anda descrente com nosso futuro como nação, depois do meu discurso, foi rápido e ligeiro na sua análise. “Lula e Bolsonaro não irão para o segundo turno. Lula é um espertalhão. Bolsonaro nos envergonha no exterior”. Depois de dizer isso, olhou-me fixo e arrematou. “Quem ganhará no segundo turno, mesmo que um dos dois por lá compareça, é o gaúcho Eduardo Leite. Os outros vão apoiá-lo. Pois todos sabem que, se não houver entendimento, nosso país estará lascado no ano de 2023”.

Meu interlocutor não me disse o motivo da escolha de Eduardo Leite nem eu quis saber a razão da sua certeza entre 11 candidatos, nada mais, nada menos, podendo-se chegar a mais de 15.

Deixei a barbearia e comecei a matutar. Se Lula tem 22% e Bolsonaro 17%; se Lula é rejeitado por 43% e Bolsonaro por 65%; se a polarização só interessa, unicamente, aos dois candidatos; se 30% dizem desde agora que não querem nem Lula, nem Bolsonaro governando a partir de 2023, acabei por concordar com as opiniões do meu cientista político. A terceira via tem amplas condições de prosperar.

Mas, quando olhamos cada um dos 11 candidatos da terceira via, a primeira pergunta que surge: pelo que se conhece de cada um deles, qual seria capaz de abrir mão da sua candidatura em favor de outra que esteja melhor nas pesquisas? 

Os que desejam uma terceira opção, com o lento andar da carruagem, estão realmente ansiosos. Estamos a menos de 11 meses das eleições, e nada se decidiu até agora. Não se sabe nem de conversas entre os candidatos. Já deveríamos estar no clima das Diretas Já. Os brasileiros deram na época lição aos que diziam que jamais seríamos capazes de nos juntar por uma boa causa. Sem esse clima, a situação se complica, a fragmentação de candidatos se mantém, e o entendimento vai para o beleléu. Meu barbeiro está certo: a falta de entendimento será a causa mortis da terceira via. A polarização dos dois que lideram as pesquisas se torna mais sólida. E não nos iludamos nem sejamos ingênuos: Lula e Bolsonaro sabem perfeitamente o que fazem. 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!