Acílio Lara Resende

Atentos aos sinais contra o regime democrático

Reações institucionais à declaração de Carlos Bolsonaro


Publicado em 19 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Desculpe-me, leitor, mas não posso deixar passar em branco a foto do deputado Eduardo Bolsonaro, ao lado do pai no hospital, exibindo uma pistola na cintura, e a declaração do vereador Carlos Bolsonaro dizendo que, “por via democrática, a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”. Ambas são bastante claras, e a conclusão é uma só: os inimigos da liberdade são audaciosos. Não guardam limites. Criticam a democracia e os direitos humanos porque estes são os principais pressupostos daquela.

As atitudes dos filhos do presidente me levaram ao distante ano de 1990, quando, em entrevista , o então deputado Jair Bolsonaro disse que “por meio do voto você não muda nada no país. Tem que matar uns 30 mil”. O que disse não o impediu que fosse eleito, legitimamente, em 2018, com 60% dos votos. Em sua maioria, esses votos lhe foram dados pelos que não queriam mais o PT. Queriam, sim, um governo democrático, no qual a Constituição fosse o limite.

Não foi à toa que o vice-presidente Hamilton Mourão, em resposta ao falante, foi firme ao observar o seguinte: “Temos que negociar com a rapaziada do outro lado ali da praça. É assim que funciona (a democracia). Com clareza, determinação e muita paciência”.

Ameno, após alta da cirurgia para corrigir uma hérnia abdominal, o presidente da República tentou traduzir o que disse Carlos: “(Ele) teve razão ao afirmar que por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos. Demora porque tem discussão. É natural. Falou o óbvio. Não deveria ter essa repercussão”.

Ainda bem que a reação à fala de Carlos Bolsonaro repercutiu imediatamente. Censuram-na, além do vice-presidente, o presidente do Senado e o presidente da Câmara Federal.

Os jornais, incluindo este no qual escrevo, ao lado do noticiário completo, por seus editoriais, também se pronunciaram em defesa da democracia: “O país precisa – publicou O TEMPO – ficar alerta. É inegável a vontade de alguns de governar por leis próprias”, desprezando a democracia.

A ex-procuradora geral da República Raquel Dodge, dirigindo-se aos brasileiros, não perdeu a chance: “Faço um alerta para que fiquem atentos aos sinais de pressão sobre a democracia liberal, vez que no Brasil e no mundo surgem vozes contrárias ao regime de leis”.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, também seu ex-presidente, tem dito, repetidamente, que a democracia no Brasil, ao fazer 30 anos, pode comemorar a consolidação das suas instituições. É bom lembrar, porém, que ela continua a ser uma plantinha tenra, que precisa ser diariamente adubada e regada (vide Thomas Jefferson).

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