Acílio Lara Resende

Como entender ou explicar o presidente

Política, no Brasil, se transformou num samba de uma nota só


Publicado em 08 de julho de 2021 | 03:00
 
 
 
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Tenho sido “bastante brando com o presidente Jair Bolsonaro”, disse-me outro dia um leitor. “Ele é responsável, completou, na pior hipótese, por um terço das mortes provocadas pela Covid-19”. A política – uma ciência pelo menos na teoria –, em qualquer parte do mundo, e em qualquer tempo, de safra boa ou ruim, é mesmo difícil de ser abordada. No Brasil, ela se transformou num samba de uma nota só.

Só há um personagem – o chefe do Executivo Federal –, que, desde sua posse, se transformou numa fonte de horrores. É mesmo difícil entender ou explicar sua personalidade. Não é um democrata, nem nunca o será, e não só por fazer apologia da ditadura militar. Ele tem enorme dificuldade para entender o significado do regime democrático. Além de não o compreender, não tem nenhum apreço por ele. Agride o Congresso Nacional e desrespeita o Supremo Tribunal Federal (STF). Tomou conta do espaço e do tempo da imprensa tradicional e das redes sociais. Ao jornal, ao rádio ou à televisão, não responde às perguntas, mas agride os jornalistas.

“Acabar com a corrupção” é um juramento que nunca fez sentido e não mais faz parte dos seus propósitos de governo.

Na semana passada, voltou-se contra três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) por considerá-los contrários ao voto impresso, sem o qual – já ameaçou várias vezes – haverá “problemas” em 2022, após as eleições de outubro. E faz referência ao “seu Exército”, do qual espera total apoio. Já se sabe que o projeto não passará. A maioria dos partidos que o apoiam não quer de volta o passado.

O Jair Messias Bolsonaro eleito em 2018 era falso. O autêntico é o que se mostra hoje. Foi ao falso que 56 milhões de brasileiros – aos quais prometeu mundos e fundos – depositaram a esperança de que ele representaria no Brasil a “nova política”. A decepção com o PT, mas, sobretudo, o ódio o Lula e ao petismo (ele também não respeita os partidos políticos, já participou de 10 ou 11), em razão do mensalão e da operação Lava Jato, ajudou-o bastante. Mas fundamental à sua eleição foi sem dúvida a estúpida facada em Juiz de Fora.

Sob a consternação do povo brasileiro, leitor, Bolsonaro se tornou um “mito”, que vai se desintegrando aos poucos e de maneira triste.

Enfim, em meio ao “caso” da Covaxin, o portal Uol, há poucos dias, divulgou áudios que expõem o presidente a uma situação vexatória. Neles, sua ex-cunhada Andréa Siqueira Valle, irmã de sua ex-mulher, Ana Cristina Valle, o incluiu nas “rachadinhas”. Isso dá razão a Ciro Gomes quando afirma que foi Bolsonaro quem a ensinou aos filhos, após tê-la praticado durante 27 anos como deputado federal.

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