Acílio Lara Resende

Constituição Cidadã, CPI da Covid e terceira via

Mil dias de governo Bolsonaro no Brasil


Publicado em 07 de outubro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Mil dias de governo Bolsonaro e, por incrível que lhe possa parecer, leitor, 600 mil mortos na pandemia. Estamos, por assim dizer, às portas das eleições para a Presidência da República, para o Senado, para a Câmara Federal e para os governos estaduais. Pouco ou muito, dependendo do ângulo em que se examina a questão, interessam ao presidente as eleições para as duas Casas Legislativas e para governadores. O que ele quer de fato, de um jeito ou de outro, é “ficar na condução” do país por mais quatro anos. Pelo menos. Vale tudo, então.

Quando me lembro do tempo decorrido, penso no mal que o instituto da reeleição fez ao país. O governo, que comemora mil dias e que não fez rigorosamente nada, já acabou. Embora o considere uma exceção à regra (além dele, há mais duas ou três em nossa história republicana), não posso deixar de lamentar que, infelizmente, Fernando Henrique foi o responsável por ela. Deixou-se levar pelo caminho fácil.

Os mil dias de governo coincidem com os 33 anos da Constituição Cidadã, de 1988 (5.10.1988), que deveria ter sido a única bússola de um governo que, ao pretender desrespeitá-la, meteu os pés pelas mãos e impôs ao país sacrifícios de toda ordem. A propósito, o artigo “O único caminho”, do ministro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), publicado em “O Globo” dessa terça-feira, pela sua simplicidade e objetividade, deveria fazer parte do currículo de todas as escolas do país, das universidades, da vida de todos os brasileiros.

Reconheço que há sessões da CPI da Covid que nos levam a ter vergonha não só de alguns dos seus integrantes, mas também dos depoimentos de certos “elementos” que jamais deveriam ter sido convocados para depor. Esses “elementos”, junto com integrantes da comissão, ameaçam os resultados positivos de uma CPI que precisa terminar, mas, sobretudo, mostrar rapidamente ao país o que ele, em sua maioria, espera: a incriminação dos responsáveis pela enorme tragédia.

A CPI da Covid já provou o que tinha que provar. Se, por um lado, errou nesses seis meses de trabalho, como, por exemplo, nos depoimentos dos empresários Luciano Hang, promotor principal do “kit Covid”, e Otávio Fakhoury, ambos comprometidos com o presidente Bolsonaro até a medula dos ossos, por outro, com certeza, acertou em depoimentos como o da advogada Bruna Morato, na semana passada.

Agora, em poucas linhas, a terceira via. Os eleitores vão aceitá-la ou vão de novo cometer mais um erro irreparável, que, desta vez, poderá levar o país à desgraça total. Ela só se definirá no ano que vem, seis meses antes das eleições, ou nunca se definirá porque não há tempo para se construir uma via inteligente? O que avança, neste país, com essa retrógrada polarização política, não é a inteligência, mas a estupidez humana, como bem mostrou matéria da última revista “Veja”.

O futuro do país, leitor, depende das nossas escolhas.

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