ACÍLIO LARA RESENDE

Continuarei sonhando com um país livre, cordial e justo

Que venha o Catar com a conquista de mais uma Copa


Publicado em 19 de julho de 2018 | 03:00
 
 
 
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Consciente ou inconscientemente, foi-se a conquista do hexacampeonato – um sonho de uma noite de verão. Mas juro que não me arrependo de nada, leitor, muito menos de sonhar com mais uma Copa e com um país melhor, não para mim, mas para os jovens (eles têm idade para vivenciá-lo). Para eles, o tempo está muito longe de se esgotar. Espero que eles saibam disso. Todos eles, certamente, ainda conhecerão um país justo, livre e cordial, cuja Justiça – um sonho que não podemos deixar jamais de acalentar – seja igual para todos. Se eu pudesse, daria a eles de graça este conselho: acreditem na Justiça, mas com a certeza de que somos – todos nós – criaturas imperfeitas. Sempre.

A propósito, esta expressão, “sonho de uma noite de verão”, foi muito usada por minha geração. Trata-se do nome de uma peça de William Shakespeare que conta a história, ocorrida por volta de 1590, dos encontros e desencontros de quatro jovens enamorados, num bosque, numa noite de verão. Uma comédia trágica. Como as noites de verão não são tantas, o importante é nunca perder, mesmo sem elas, a capacidade de sonhar. Que venha, portanto, o Catar!

Não fiquei nem um pouco desapontado com nossa seleção, mas com os rumos tomados pelo futebol no mundo, tanto técnica quanto taticamente. Nossa seleção, sem ufanismo, nada deve ao futebol que se viu em todos os jogos. Poderia chegar à disputa do título até mesmo sem qualquer ajuda de terceiros – como aconteceu com o juiz argentino, que ajudou a França: primeiro, na marcação de falta inexistente, que acabou em gol contra, e, depois, na marcação de pênalti duvidoso, que quase desabou a seleção da Croácia. A pergunta que cabe fazer é esta: se a falta e o “pênalti” fossem contra a França e contra os interesses envolvidos na Copa, seriam de fato marcados?

Incluo-me, leitor, entre os saudosistas românticos. Para esses, o futebol sem craque se torna medíocre. Infelizmente, nem Neymar, nem Philippe Coutinho confirmaram essa condição. O futebol europeu, que é força, velocidade e contra-ataque, ao lado do dinheiro, vai anulando devagar o improviso e, com ele, a existência de craques.

Mas deixe para lá o futebol ou o “novo futebol”, como observou ontem Paulo Paiva nesta página. Agora, com a beleza ou sem sua beleza, é a política que ameaça ferver às vésperas de uma eleição cujo resultado (não só eleitoral, mas prático) ninguém consegue prever.

Depois de a juíza Carolina Moura Lebbos, da 12ª Vara de Execuções Penais de Curitiba, proibir Lula de fazer campanha na prisão, de dar entrevistas ou fazer gravações, os jornais divulgaram ontem vídeo do ex-presidente (gravado antes de ser preso) para marcar os cem dias de sua prisão, no dia 7 de abril, com ataques a ministros e ao juiz Sergio Moro: “Eu acho que tem uma coisa – disse Lula – muito grave acontecendo, porque parece que eu sou o sonho de consumo dos ministros que me julgaram e do juiz Moro, porque me parece que eles não querem, em hipótese alguma, junto com a Rede Globo de Televisão, que a Lava Jato acabe ou que eu seja inocentado antes de ser preso”.

Como disse o jornalista e escritor Zuenir Ventura, “o Brasil é a terra dos contrastes e das contradições. Aqui, o desvio é a norma, o crime, uma rotina, e o caos urbano, o pão nosso de cada dia”. Zuenir se referia a outro assunto, mas o desabafo cabe aqui: como pode alguém, “com atestado de réu por corrupção, passado pelo Poder Judiciário”, como afirmou Joaquim Falcão, ser candidato a presidente?

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