Acílio Lara Resende

“Dei o primeiro passo, agora vamos conversar muito”

Política brasileira, eleições e a fome no Natal


Publicado em 23 de dezembro de 2021 | 03:03
 
 
 
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Não há como iniciar estas linhas, cujo objetivo final é outro, sem antes me referir ao nosso país. “Que país é esse”, perguntou, em tom de crítica, o ex-governador Francelino Pereira. Essa pergunta é mais válida ainda nos dias que correm. Que país é esse cujo presidente acaba de ser acusado, pela Polícia Federal, de promover desinformação e divulgar teorias da conspiração sobre o sistema de votação durante transmissão ao vivo pela internet, realizada no mês de julho deste ano?

Quem afirma isso é a própria delegada Denise Dias Rosa Ribeiro: “Este inquérito permitiu identificar a atuação direta e relevante do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, na promoção da ação de desinformação, aderindo a um padrão de atuação já empregado por integrante de governos de outros países”.

Passemos de um lado para outro. Logo depois de deixar o PSDB, partido do qual foi fundador e no qual, ao longo de 33 anos, disputou várias eleições, o ex-governador Geraldo Alckmin, velho opositor do PT, se dispôs a examinar as chances que tem à sua frente. Para isso, já até se encontrou com o ex-presidente Lula.

Chegou, enfim, a hora de examinar os convites do PSB, PSD e Solidariedade. Se for para o PSB, é porque vai aceitar a vaga de vice de Lula (que afirmou que só dirá o nome do vice depois de ser candidato à Presidência da República). Com essas duas últimas pesquisas, que dão a vitória ao petista no primeiro turno, então, ficou mais fácil conversar para tomar logo a decisão. Muitos que ouviram o seu discurso acreditaram na possibilidade de Alckmin ser vice, mas não descartam outra – a de ser candidato pela quinta vez ao governo.

Enquanto o ex-governador de São Paulo justifica sua saída do PSDB dizendo que “estamos vivendo outro momento da vida política”, o ex-deputado estadual Pedro Tobias, seu aliado desde sempre, foi mais duro e fez o seguinte desabafo: “Após 30 anos, deixo o ninho tucano, que, infelizmente, não é mais social e democrata. O partido é tocado apenas por vaidades pessoais ou projetos eleitorais”.

E é exatamente isso – as vaidades pessoais – que impedem a construção de uma terceira via, que, com certeza, transformaria este imenso e adolescente país em poucos anos. Necessitamos de uma nova fase, na qual políticos realmente competentes disputem o difícil cargo de presidir 210 milhões de brasileiros, cuja imensa maioria sofre de todos os males possíveis.

Cheguei até aqui consciente de que deveria ter iniciado estas linhas referindo-me ao Natal, que é, a um só tempo, bonito e triste. Triste quando nos lembramos de um Natal de fome (27 milhões de brasileiros estão abaixo da pobreza e 50 milhões são considerados pobres). Dói-nos, terrivelmente, ver perambulando pelas ruas, sobretudo das grandes cidades, crianças pedindo ajuda acompanhadas dos pais.

Mesmo assim, desejo-lhe, leitor, um feliz Natal!

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