ACÍLIO LARA RESENDE

Do jornalista William Waack às eleições de outubro de 2018

Explicações correspondem, apesar do silêncio por tanto tempo


Publicado em 18 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Conheci William Waack, ainda jovem, no “Jornal do Brasil”. Além de repórter, foi editor de economia. Jornalista, escritor, sociólogo e cientista político, Waack fez pós-graduação em ciência política, sociologia e comunicação na Universidade de Mainz, na Alemanha. Depois, percorreu o mundo. Meus contatos com ele não eram amiudados. Na maioria das vezes, se faziam por telefone ou por telex, cujos jovens de hoje não têm noção do que seja. Ou, no Rio, quando lá aparecia.

É bom dizer que sou do tempo da radiofoto e da telefoto. (Ou do telex ponta a ponta, que servia a empresários mineiros que o assinavam para receber, principalmente, noticiário econômico do JB, transmitido pela Agência JB). Waldemar Sabino, o Mazico, não está mais entre nós para confirmar isso. Fotógrafo eficiente e corajoso, era um expert nas transmissões de fotos por telefone. William trabalhava no Rio de Janeiro, e eu, em Minas, mais precisamente em Belo Horizonte.

Apesar de já cansado da maioria dos noticiários de televisão, fazia questão de ver e ouvir (e refletir depois, com serenidade), no programa “Painel”, da TV Globo, aos sábados, a partir de 23h – que terminava, sob meu protesto semanal, às 24h (poderia ser mais longo) – o competente jornalista William Waack, sempre acompanhado de gente realmente de escol: filósofos, juristas, jornalistas, economistas, empresários, historiadores, cientistas-políticos, sociólogos, antropólogos etc., escolhidos a dedo e sem preocupação com a tendência de cada um.

Assustei-me, pois, quando li a notícia, primeiro de seu afastamento provisório da televisão, na qual trabalhava há mais de 20 anos, e, depois, de seu desligamento, segundo informação da emissora, mediante acordo das duas partes. Aflito, aguardei um pronunciamento seu e estranhei o tratamento distante que recebeu de muitos de nós.

Velho aprendiz dessa profissão atrevida e conflituosa que é o jornalismo, pareceu-me equivocada a decisão tomada pela emissora. William merecia um programa inteiro, se fosse preciso, para contar ao telespectador, em detalhes, o que de fato ocorreu. Não poderia permanecer como vítima indefesa de uma emboscada, que transformou uma piada ou uma brincadeira de mau gosto em ofensa gravíssima.

Agora, leitor, depois do artigo de William Waack na “Folha de S.Paulo”, no último domingo, fiquei realmente aliviado com suas explicações. Elas correspondem, exatamente, ao que sempre imaginei dele, apesar de seu silêncio por tanto tempo: “Se os rapazes – disse no início do artigo – que roubaram a imagem da Globo e a vazaram na internet tivessem me abordado, naquela noite de 8 de novembro de 2016, eu teria dito a eles a mesma coisa que direi agora: aquilo foi uma piada – idiota, como disse meu amigo Gil Moura –, sem a menor intenção racista, dita em tom de brincadeira, num momento particular. Desculpem-me pela ofensa; não era minha intenção ofender qualquer pessoa, e aqui estendo sinceramente minha mão”. E, depois, ainda afirmou: “Admito, sim, que piadas podem ser manifestação irrefletida e um histórico de discriminação e exclusão. Mas constitui um erro grave tomar um gracejo circunstanciado, ainda que infeliz, como expressão de um pensamento”.

Não sobrou espaço, leitor, para as eleições de outubro de 2018. Se me animar, prometo voltar a elas, que precisam ser abordadas didática e inteligentemente por gente como William Waack.

Seu retorno será bom às eleições e ao país.

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