Acílio Lara Resende

Há sempre uma receita para combater o desalento

A música como salvação em um mar de imbecilidades


Publicado em 01 de outubro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Não têm sido suaves esses meses de pandemia, de informações e contrainformações, de mentiras e verdades sobre o novo vírus que abalou o mundo. Um dos companheiros “daquela mesa” no Clube Campestre revelou que notou mudanças de comportamento nas pessoas com as quais voltou a conviver: “E não é só na fisionomia de cansaço que todos ostentamos. Sentimos o impacto, e envelhecemos”.

Mas isso ainda não levou boa parte da elite brasileira, chamada pelo cronista Joaquim Ferreira dos Santos de “tosqueira”, a tomar medidas preventivas contra a doença. Ela insiste em não usar máscara, promove aglomerações e não está nem aí para o próximo.

Pior do que a pandemia, porém (outras virão e serão tratadas adequadamente), é não sabermos para onde o mundo caminha no momento em que a tecnologia ameaça acabar não só com a liberdade e a democracia, em razão, sobretudo, de uma diabólica epidemia – a das notícias e dos perfis falsos. A ciência avança velozmente na tecnologia da leitura da mente e, obviamente, esbarra em graves preocupações éticas.

“Cérebros estão conversando com computadores e computadores estão conversando com cérebros. Nossos pensamentos estão seguros?”. É o que pergunta o neurocientista computacional da Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), Jack Gallant, que vai mais longe quando formula esta outra pergunta: “O que acontecerá quando for realmente possível ler os pensamentos de uma pessoa que sequer está consciente deles, quando for possível ver as lembranças das pessoas?”.

Ou o melhor é não pensar em nada disso, leitor? “Isso é coisa de cientista maluco, que fica coisando por aí e nos deixa mais malucos”, como diria o saudoso jornalista e escritor José Bento Teixeira de Salles, que usava o verbo “coisar” para explicitar o que desejava dizer.

Minha sugestão, para os dias que ainda virão, é ouvir música. Ela funciona como bálsamo em nossos corações atormentados.

Está na internet uma boia de salvação em seu mar de imbecilidades (que podem matar a liberdade, a democracia e o ser humano numa só tacada): a bela música “Smile”, do gênio Charlie Chaplin, composta para o filme “Tempos Modernos”. A música é de 1936; a letra, de John Turner e Geoffrey Parsons, é de 1954. Cantores consagrados (como Djavan) a gravaram. Sua letra é um poema. Ei-la: “Sorri / Quando a dor te torturar/ E a saudade atormentar / Os teus dias tristonhos, vazios / Sorri / Quando tudo terminar / Quando nada mais restar / Do teu sonho encantador / Sorri / Quando o sol perder a luz / E sentires uma cruz / Nos teus ombros cansados, doridos / Sorri / Vai mentindo à tua dor / E ao notar que tu sorris / Todo mundo irá supor / Que és feliz”.

Que sirva de mais um alento aos órfãos da Covid-19.

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