ACÍLIO LARA RESENDE

Não só o Brasil, mas o mundo aguarda ansioso o ano novo

Busquemos o meio-termo, difícil nestes tempos bicudos


Publicado em 27 de dezembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Tenho a impressão de que estamos chegando ao fim de 2018 ofegantes e ansiosos. Quem se dá ao luxo de observar, ainda que superficialmente, o que acontece neste mundão de Deus, conclui logo que pouco valeu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ocorrida há 70 anos, no dia 10 de dezembro de 1948, na cidade de San Francisco, no Estado da Califórnia. Eleanor Roosevelt, ex-primeira dama dos Estados Unidos (1933-1945), encaminhou sua aprovação com estas palavras: “Esta declaração pode bem se tornar a Magna Carta de todos os homens, em todos os lugares”. A data, pouco comemorada por quase todos os políticos, deixou, igualmente, de ser lembrada, infelizmente conforme observou a ex-deputada Sandra Starling, em sua coluna de ontem, pelo futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

Nada melhor e mais oportuno, portanto, leitor, do que sugerir, desde logo, ao futuro presidente da República, Jair Bolsonaro, que tenha em mãos, constantemente, como guias seguros, não só a Constituição de 1988 (sobre a qual, aliás, ele já se referiu e, em seguida, jurou obediência cega) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas, com certeza, uma das muitas frases de Eleanor Roosevelt: “Não é justo pedir aos outros o que você mesmo não está disposto a fazer”.

Não posso deixar de me referir, por outro lado, à morte de mais um menino imigrante, detido nos Estados Unidos (no início deste mês, a menina Jaklin Caal, de 7 anos, também morreu), e ao presidente histrião Donald Trump. Nascido na Guatemala, o garoto de 8 anos estava detido, segundo a agência Associated Press, em um abrigo para imigrantes nos EUA. Depois de passar mal e de ser levado, acompanhado do pai, duas vezes, na última segunda-feira, a um hospital em Alamogordo, acabou morrendo na noite de 24.12. Sem diagnóstico.

O presidente Trump optou por não viajar neste Natal, mas, ao mesmo tempo, ameaçou manter o governo federal parcialmente paralisado, na suposição de que, agindo assim, obterá, finalmente, recursos para a realização da obra mais cara e tresloucada do mundo atual – a edificação de um muro na fronteira com o México. O líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, e a líder da bancada na Câmara, Nancy Pelosi, acusaram o republicano de “mergulhar o país no caos”, em plena noite de Natal. Não satisfeito, o “língua solta”, como hoje é conhecido em seu país, ao receber um telefonema de uma criança de 7 anos, no dia 25, respondeu-lhe desta maneira, cumprindo, fielmente, mais um papel – agora o de destruidor de sonhos: “Você ainda acredita em Papai Noel? Porque, aos 7 anos, isso é raro, certo?”.

Gostaria de ter motivo real, neste finzinho de ano, só para agradecimento e comemoração. Desculpe-me, leitor: suprima aí o vocábulo “agradecimento”. Pois, afinal, agradecer é o que, no meu caso, em especial, devo fazer – por estar vivo, gozando de saúde e junto de minha família. A comemoração, sim, é que fica difícil, num instante em que a incerteza, diante de um novo governo, toma conta de todos nós. Diria o seguinte: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Busquemos o meio-termo, coisa realmente difícil nestes tempos bicudos. Essa busca, porém, não deve ser só nossa, mas, sobretudo, do futuro presidente, que tomará posse em meio a graves suspeitas envolvendo a própria família.

Que a reconciliação e a união sejam, enfim, as tônicas de 2019, e que o sofrido povo brasileiro não seja traído mais uma vez.
Meus votos não poderiam ser outros: feliz ano novo! 

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