Acílio Lara Resende

O Natal de 2020 deixou marcas de muito sofrimento

“Também a dor tem suas hipocrisias, diz Machado de Assis


Publicado em 31 de dezembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Neste ano de 2020, celebramos um Natal que deixou em milhares de famílias brasileiras marcas indeléveis de muito sofrimento. Não tenho ideia de quantos textos já fiz sobre essa data, que, a um só tempo, nos traz alegria e tristeza. Recordo-me de que sempre procurei dar ênfase, em especial, ao dia 25. Sempre me dirigi aos que acreditam na esperança e aos que ainda aceitam que o que se comemora é, sim, o nascimento de Jesus Cristo. Pode ser piegas, leitor, mas é verdadeiro.

Agora, neste triste finalzinho de 2020, os assuntos que povoam minha mente me deixam mais angustiado e, não raras vezes, revoltado. Não são nada agradáveis à leitura nem ao ouvido. A análise, por exemplo, do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou que ainda não há, até hoje, um plano estratégico do Ministério da Saúde contra a pandemia é patética e/ou trágica. Isso depois de tantas mortes desnecessárias. Quanto mais passa o tempo, o governo menos aprende.

Todavia, ao iniciar estas linhas, me surgiu uma ideia, que, aliás, não tem nada de original: encontrar algum texto mais antigo, embora não tão distante deste ano, mais uma vez entregue ao acaso.

A procura durou pouco. Encontrei o que segue aqui, mas apenas em parte. Comecei o texto citando o filósofo Schopenhauer – o mestre do ceticismo: “Não há nada tão desgraçado na vida da gente que não possa ficar pior”. Uma dura lição, com certeza, para todos os mortais. Depois, procurei auxílio no maior gênio da literatura em língua portuguesa, Machado de Assis: “Também a dor tem suas hipocrisias”.

E continuei: “Mesmo diante da crise que se anuncia, e que agora vai mostrar o seu tamanho, estes talvez não sejam os aforismos indicados para o início de mais um ano. Mas, e se estiver próximo o fim da humanidade, dominada pela guerra, pela destruição dos recursos naturais e pela ganância desenfreada? A realidade parece ser esta: celebra-se o Ano-Novo e se chega mais perto do fim do caminho”.

Vivíamos o ano de 2008. Nos chamava a atenção várias celebrações, uma delas abominável: 80 anos da Declaração dos Direitos Humanos, uma das maiores conquistas da sociedade humana; 50 anos da morte do papa João XXIII, que liderou verdadeira revolução na Igreja Católica; 20 anos da Constituição Cidadã; e, enfim, 40 anos do AI-5.

Em homenagem ao centenário de sua morte, também em 2008, aqui fica mais um aforismo do eterno mestre Machado de Assis, que serve como uma luva ao atual presidente: “Aplausos, quando os não fundamentam o mérito, afagam certamente o espírito e dão algum verniz de celebridade; mas quem tem vontade de aprender e quer fazer alguma coisa, prefere a lição que melhora ao ruído que lisonjeia”.

Que o ano de 2021 seja de renovação da esperança.

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