Acílio Lara Resende

Sergio Moro adota discurso de candidato

A terceira via segue sem ensaiar uma conciliação


Publicado em 18 de novembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Sergio Moro se filiou ao Podemos, como se esperava, e falou como candidato a presidente da República. Se nada der certo, o ex-juiz tentará o Senado pelo seu Estado. Como já disse aqui, são 11 políticos que disputam a terceira via. Sua candidatura trouxe críticas, mas foi mais aplaudida do que se pensava. “Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de rachadinha, chega de orçamento secreto”, disse Moro em discurso no Centro de Convenções Ulysses de Guimarães.

Ciro Gomes, um dos 11, como sempre, não deixou por menos e bateu forte no ex-juiz: “A candidatura de Moro só vai agravar sua crise de identidade. Ele vivia disfarçado de juiz e agora quer se disfarçar de político para resolver suas enormes contradições. Nenhuma das vestes lhe cabe”. Seu irmão, Cid Gomes, senador pelo Ceará (PDT-CE), não negou o sangue e se saiu com mais esta: “Se tem mais gente para dividir, é claro que isso atrapalha e faz o jogo do Bolsonaro”.

Aqueles que aguardam a concretização de uma terceira via capaz de derrotar, no primeiro e no segundo turno, qualquer dos dois, Lula ou Bolsonaro, estão agora simplesmente perdidos, leitor.

Gilberto Kassab já descartou qualquer aliança com Moro e disse o óbvio: “Eu acho que o perfil de vencedor será aquele que representa a união do país, a pacificação”, além do compromisso para a solução dos nossos problemas. Kassab defende a candidatura à Presidência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Quando se fala em união do país e conciliação, me vem à mente a eleição de Tancredo Neves para governador. Lá, Minas existia e sabia como jogar as cartas. Disputou com Tancredo o ex-ministro Eliseu Resende, que teria sido (e disso nunca tive dúvida) um grande governador, sobretudo pelas suas qualidades de bom gestor. Mas foi que Tancredo passou por Minas para ser eleito presidente e retirar o país do regime militar. Esta era a sua missão. Tenho procurado saber por onde andam Minas e os mineiros. Será que “Minas não há mais”?

À exceção do atual governador, Romeu Zema, que torce por Bolsonaro e que já disse que será candidato à reeleição, não se sabe quais seriam os outros. De Brasília, chegou a notícia de que a ex-presidente Dilma Rousseff sonha em ser governadora de Minas. Zema, segundo dizem aliados, está muito forte no interior. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, que é forte na cidade, fez alguns ensaios como candidato ao governo, mas, pelo menos por ora, deixou de lado a candidatura para tratar de problemas oriundos de desencontros entre ele e a Câmara Municipal. Já há até pedido de impeachment contra ele.

Não dispomos mais, em Minas Gerais e no país, de um Tancredo Neves, que sabia como buscar a conciliação. Resta-nos apenas esperar a campanha. Alguém terá, necessariamente, que surgir.

O país não suportará uma radicalização paranoica. 

 

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