Manuela Dias é, sem dúvida, uma das roteiristas mais talentosas da sua geração. A nova versão de Vale Tudo confirma isso: um texto preciso, diálogos bem construídos e uma direção sofisticada, que atualiza o clássico de Gilberto Braga para os tempos atuais.

Mas, como se pergunta nos bastidores, cadê o povão?

Na tentativa de modernizar a trama e recheá-la de simbologias contemporâneas, o remake acabou perdendo a conexão mais valiosa da teledramaturgia brasileira: o público popular, que historicamente sustenta as novelas da Globo.

O resultado é uma novela elegante, mas excessivamente cerebral, preocupada em construir metáforas e estéticas refinadas — e menos em criar aquela identificação emocional direta, que fazia o Brasil parar para assistir.

Um exemplo: Raquel, vivida agora por Taís Araújo. Nos primeiros dez capítulos, ainda havia resquícios da mulher batalhadora e simples, que falava com quem via a novela na sala de casa.

Agora, transformou-se em uma personagem fria, controlada — quase uma executiva de série gringa, distante da figura combativa que marcou a versão original.

Os temas sociais continuam presentes, mas falta o tempero. Falta o barulho do mercado, o calor da rua, o suor da calçada. Falta aquele olhar que atravessa a tela e toca o espectador.

Odete Roitman em Vale Tudo
Odete Roitman em Vale Tudo

Com a trama ainda em andamento, há quem torça — e não são poucos — para que Vale Tudo reencontre esse Brasil popular e emocional, que sempre foi a alma da novela brasileira.

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