Há algo deslocado em Êta Mundo Melhor!, que vai muito além da estética colorida ou da direção teatral. A novela das seis da Globo, escrita por Walcyr Carrasco com colaboração de Mauro Wilson, parece falar com um público muito mais jovem do que o habitual — e não seria exagero dizer que, em muitos momentos, lembra uma série produzida para o Gloob, canal infantil do Grupo Globo.
Com diálogos simplificados, ausência de ganchos e uma leveza que beira o pueril, a trama carece de densidade emocional. O enredo central — a busca de Candinho (Sergio Guizé) pelo filho perdido — foi enfraquecido cedo demais, ao colocar pai e filho interagindo sem saber quem são. Essa aproximação precoce esvaziou a força do reencontro, programado para o início do ano que vem, e tirou da história o motor dramático que poderia sustentá-la por mais tempo.
Falta também antagonismo real. Zulma (Heloisa Périssé), que deveria representar o lado sombrio da narrativa, é uma vilã caricata, cômica demais para despertar medo ou tensão. O público se diverte, mas não se sente ameaçado — e novela sem conflito verdadeiro perde camadas. Êta Mundo Melhor! tem doçura de sobra, mas carece do agridoce que sempre marcou as melhores produções do horário: aquela mistura de ternura com dor, leveza com risco, sonho com realidade.

O resultado é um folhetim bonito, mas que desliza em superfície rasa. Falta profundidade, falta impacto e, sobretudo, falta emoção genuína.
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