A abstenção eleitoral no Brasil, que já havia sido impulsionada pela pandemia de Covid-19, cresceu nas eleições de 2024. Em Belo Horizonte, o número de eleitores que não foram votar bateu recorde (31,95%), porcentagem maior que a do candidato derrotado, Bruno Engler (PL). Na cidade de São Paulo, a alta porcentagem de votos nulos e brancos (11%) também chama a atenção.

A ausência nas urnas reflete uma crise de confiança na política e na representatividade, especialmente nas periferias, onde os contextos socioeconômicos aprofundam o sentimento de desilusão e impotência diante do sistema.

Quando a abstenção cresce, a democracia se enfraquece, e nosso sistema político perde legitimidade. Mas, quais são as razões de cada vez menos pessoas irem às urnas? Será a polarização intensa que afasta os eleitores? A falta de informação sobre o impacto do voto na vida cotidiana? Dificuldades para se locomover até o local de votação, devido a um transporte público precário? A institucionalidade que, ao tornar o processo político de difícil acesso e compreensão, distancia o povo do processo de tomada de decisões? A falta de confiança nas instituições? Creio que seja um conjunto de fatores, mas antes de tudo a abstenção é uma forma de protesto. As pessoas estariam cansadas de promessas vazias e de uma comunicação que fala sobre o povo, mas – muitas das vezes – não com o povo?

A política deve ser uma ferramenta de garantia de direitos, e não de distanciamento, Contudo, o que temos visto são muros cada vez mais altos separando as decisões políticas dos anseios reais da população. Como falar de democracia se a grande maioria dos cidadãos sequer se sente parte desse processo?

É preciso que nós, políticos, tenhamos consciência de que a abstenção é reflexo da insatisfação de uma sociedade que se vê esquecida, marginalizada. Um Estado que não entende a urgência de traduzir a política para uma linguagem acessível e em ações práticas para a vida das pessoas falha em sua missão básica de representatividade. 

O povo quer ser feliz, ver seus familiares saudáveis, ter comida na mesa e oportunidade de trabalho. E a política deve ser uma ponte para esse objetivo, mas em vez disso se transformou em um cenário de palavras complexas e disputas elitizadas, em que o cidadão comum não encontra seu lugar.

Em minha atuação parlamentar, tenho buscado reverter essa realidade. Como mulher preta, vinda da periferia e representando o Partido dos Trabalhadores, minha jornada na política é feita de conversas com as pessoas nas ruas, ouvindo suas demandas, traduzindo a política em ações que realmente refletem a vida cotidiana. Política, para mim, não é sobre cargos e títulos, mas sobre compromisso com quem nos elegeu e confiou em nosso trabalho.

O desafio que enfrentaremos nas próximas eleições é reconquistar a confiança do povo, com uma política acessível, que respeite as diversas realidades e os desejos de cada cidadão. Precisamos dar um passo atrás e entender que a verdadeira mudança começa com o diálogo direto, sem rodeios, sem palavras difíceis, sem interesses ocultos.

Se quisermos construir um Brasil mais justo e igualitário, não podemos permitir que o silêncio nas urnas se torne a regra. A abstenção reflete uma dor, uma descrença que não podemos continuar ignorando.