O Carnaval é a maior manifestação cultural do Brasil e, em Minas Gerais, essa festa carrega um significado profundo, que vai além da folia e da celebração. Suas raízes negras são incontestáveis, forjadas nas senzalas, nos quilombos e nos terreiros, e se tornaram fundamentais para a construção da identidade mineira. Mais do que uma festa, o Carnaval é um ato de resistência, um grito de liberdade e uma celebração da riqueza cultural do nosso povo.
Minas Gerais tem uma história marcada pela exploração da mão de obra negra, trazida à força para trabalhar nas minas de ouro e diamantes. Mas, mesmo diante da brutalidade da escravidão, o povo negro construiu formas de resistência que moldaram a cultura do Estado. O Carnaval, com seus batuques, marchas e desfiles, é uma dessas expressões. Os ritmos que hoje embalam os blocos de rua e as escolas de samba são herdeiros diretos dos tambores africanos e das tradições religiosas afro-brasileiras.
O congado, por exemplo, presente em diversas cidades mineiras, tem uma relação profunda com o Carnaval. A musicalidade, a dança e os cortejos dos congadeiros se misturam às tradições carnavalescas, reafirmando a presença da cultura negra em nossa identidade. Em cidades como Ouro Preto, Belo Horizonte, Diamantina e Sabará, os blocos mais tradicionais nasceram nos terreiros, nas comunidades periféricas e nos quilombos urbanos.
Nos últimos anos, assistimos a um fortalecimento do Carnaval de rua em Minas Gerais, com blocos que resgatam as tradições afro-mineiras e trazem para o centro da festa os valores da resistência negra. Blocos como o Então, Brilha!, em Belo Horizonte, e “Bartucada”, em Diamantina, carregam essa ancestralidade em seus ritmos e em suas narrativas. É a reafirmação da identidade negra na maior festa popular do país.
Mas é preciso ir além da celebração. O reconhecimento das origens negras do Carnaval também exige políticas públicas que garantam que essa cultura seja preservada e respeitada. A valorização dos blocos afro, das baterias que levam o tambor como símbolo e dos artistas negros que fazem essa festa acontecer precisa ser uma prioridade. Isso significa mais investimento, mais espaços de visibilidade e mais respeito às comunidades que historicamente foram marginalizadas.
O racismo estrutural ainda tenta apagar a contribuição do povo negro para o Carnaval e para a cultura brasileira. Mas Minas Gerais tem uma história que não pode ser esquecida. O nosso dever é garantir que as próximas gerações conheçam e celebrem essas origens, não apenas nos dias de festa, mas ao longo de todo o ano.
O Carnaval mineiro é negro. E reconhecer isso não é apenas uma questão histórica, mas um compromisso com a justiça e com a nossa identidade. Que os tambores continuem ecoando, lembrando a todos que a alegria do Carnaval nasceu da resistência e da força do nosso povo.