Andreia de Jesus é deputada estadual (PT) e presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
O Gás do Povo, novo programa do governo federal, lançado pelo presidente Lula ao lado do ministro Alexandre Silveira em uma das maiores favelas do Brasil, é mais do que uma política de segurança alimentar e justiça social: é também uma política de prevenção de acidentes domésticos.
Nos últimos anos, o preço do gás subiu muito acima da renda das famílias, obrigando muitas delas a recorrer a líquidos inflamáveis, como o álcool, para cozinhar de forma improvisada. O resultado foi um aumento alarmante de acidentes com queimaduras graves, que deixaram dor, cicatrizes irreversíveis e, em muitos casos, causaram mortes.
Esses casos explodiram durante a pandemia. A ausência de políticas eficazes de acesso ao gás, somada à liberação da venda de álcool 70% para enfrentar o vírus, ao desemprego e à crise econômica, empurrou a população mais pobre a riscos extremos. Essa mistura explosiva deixou marcas profundas no corpo e na memória de milhares de famílias.
As chamas atingem sobretudo quem carrega o peso da economia do cuidado, mulheres negras, crianças e idosos. Especialistas da Sociedade Brasileira de Queimaduras alertam: “Quanto mais pobreza, maior o número de acidentados”. Garantir o gás de cozinha acessível significa menos fogareiros improvisados, menos internações e menos sequelas.
O programa assegura botijão gratuito para 15,5 milhões de famílias e deve alcançar 1,2 milhão de lares em Minas Gerais. Só na capital, quase 100 mil famílias serão beneficiadas. São vidas protegidas, tempo de cuidado devolvido e dignidade garantida na mesa.
Cozinhar não é apenas para matar a fome. É gesto de afeto, transmissão de tradições, memória cultural e também fonte de renda de diversas famílias. O gás de cozinha é insumo essencial para o dia a dia. Por isso, enfrentar a alta abusiva do preço é essencial. Não é aceitável que a nossa comida esteja refém do humor sádico de presidentes estrangeiros ou da instabilidade permanente do mercado financeiro. Quando o preço do gás sobe, não se compromete apenas a refeição, mas o direito à saúde, à segurança e à cultura alimentar do país.
É nesse ponto que a soberania nacional se conecta com a dignidade humana. Defender uma Petrobras pública e comprometida com o interesse coletivo é garantir que o botijão chegue acessível à mesa do trabalhador. Um bem essencial não pode ser subordinado à lógica insaciável do capital especulativo. Deve ser tratado como instrumento de justiça social, segurança alimentar e saúde.