Andreia de Jesus

Por que as mulheres têm que ser exceção nos espaços de poder?

Dia da Conquista do Voto Feminino no Brasil


Publicado em 25 de fevereiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Ontem foi comemorado o Dia da Conquista do Voto Feminino no Brasil. Há 89 anos, mais precisamente em 24 de fevereiro de 1932, foi publicada a primeira legislação eleitoral brasileira que reconhecia o voto feminino e incluía o voto secreto (Decreto 21.076). A redação do decreto considerou eleitor “o cidadão maior de 21 anos sem distinção de sexo”. A partir de então, as mulheres brasileiras foram integradas na categoria de indivíduo capaz de expressar opiniões políticas próprias por meio do ato do voto, a ser praticado secretamente em local e urna outorgados comuns aos dois sexos.

A primeira vez que os brasileiros foram às urnas foi em 1894, e as únicas pessoas que podiam votar eram homens acima de 21 anos. A exceção ficava com os mendigos, os analfabetos, os praças das Forças Armadas e os religiosos. Não é preciso muito esforço para entender como a população negra foi excluída, mesmo a parcela masculina, já que desde 1837 negros eram proibidos por lei de frequentar as escolas e, consequentemente, se enquadravam na exceção “analfabetos”.

Foram anos de luta por um direito de exercer a tão almejada democracia e o direito aos votos, mas hoje eu me pergunto se estamos usufruindo de forma responsável.

Vou me ater ao cenário político mineiro. Acho importante começar minha análise crítica pela casa que integro e conheço bem, que é a Assembleia Legislativa de Minas Gerais. São 77 vagas para representantes do povo no Legislativo em que apenas nove eleitas são mulheres e apenas três são negras. As outras 68 cadeiras são ocupadas por homens brancos. Já nas prefeituras dos municípios mineiros, mulheres ocupam apenas 7% das prefeituras e 14 % das Câmaras de Vereadores. Esse cenário se dá em um Estado em que 52% do eleitorado é feminino e 53,9% da população é negra. Há uma disparidade que impressiona e deveria incomodar, mas parece não incomodar.

Se as mulheres são maioria no eleitorado, então por que temos que ser exceção nos espaços de poder? Obter o acesso ao direito ao voto para votar como os homens não faz nenhum sentido a meu ver. Se somos uma população plural em gênero, raça e classe, nada mais ideal que os espaços de poder possuam a mesma pluralidade para que as propostas políticas realmente contemplem a população mineira como um todo.

Se realmente queremos que essa situação deplorável que o país se encontra mude, nós, mulheres, temos que nos apoiar e nos eleger. Eu sei bem que não é fácil. Sei que, pelo histórico das violências que as mulheres sofrem nesses espaços, muitas de nós ficamos receosas de nos propormos estar em um ambiente machista e racista como são prefeituras, Câmaras, governos estaduais, Assembleias Legislativas, Senado e até mesmo no governo federal. Não são poucos os exemplos que tomamos conhecimento, um deles é o que a deputada Maria do Rosário ouviu do então deputado Jair Bolsonaro, que disse que não a estupraria porque ela é feia.

Outro exemplo recente que foi noticiado amplamente na mídia é uma imagem em que o deputado Fernando Cury passou a mão no seio da também deputada Isa Penna. E seguimos perguntando sem obter respostas: quem mandou matar Marielle?

Se queremos uma gestão melhor para nossas cidades, nossos Estados e nosso país, devemos  assumir a responsabilidade de unir as mulheres em solidariedade política. Isso significa que devemos assumir a responsabilidade por eliminar todas as forças que separam as mulheres. E ter em mente que temos e podemos ser a mudança que queremos ver no Brasil. Não podemos mais viver sob os mandos e desmandos de uma política de dominação masculina, e por esse motivo eu te convoco, mulher, a honrar essa conquista preciosa fazendo dos espaços de decisões igualitários, pesquisando mulheres competentes que te representam nessas instâncias.

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